Título: Participação boliviana ajudaria Petrobras
Autor: Cláudia Schüffner
Fonte: Valor Econômico, 04/01/2006, Internacional, p. A7

Energia Sociedade com estatal YPFB pode trazer 'importante sinergia' para operações de refino no Cone Sul

A Petrobras não tem planos de vender suas refinarias na Bolívia, mas está aberta à entrada da estatal Yacimientos Petroliferos Fiscales Bolivianos (YPFB) no negócio, disse ontem o diretor da área Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró. A afirmativa é uma resposta a especulações no Brasil e no país vizinho de que a redução da exposição da Petrobras na atividade de refino na Bolívia pode beneficiar a brasileira. "Essas refinarias hoje não são um bom negócio para a Petrobras, que enfrenta pressões sociais para garantir o abastecimento de diesel e GLP [gás de cozinha] a preços subsidiados para a população. Diante disso, levar a YPFB para dentro do negócio pode ajudar a reduzir as pressões e diminuir o risco do negócio", avalia uma fonte em La Paz, em entrevista por telefone, que pediu para não ser identificada. Marco Aurélio Tavares, sócio da empresa Gás Energy, acha que o negócio de refino na Bolívia se tornou menos rentável nos últimos anos e por isso pondera que a possibilidade de uma renacionalização desses ativos pode ser uma oportunidade para a Petrobras dividir riscos e aumentar a economicidade dos negócios. O diretor da Petrobras garante que os planos da companhia não incluem a saída das refinarias pois trazem "importante sinergia" para as operações de refino da companhia no Cone Sul, onde seus produtos são exportados para a Argentina, Chile e Paraguai. "O fato de termos refinarias no sul do Brasil, na Argentina e na Bolívia nos dá uma situação confortável. Queremos manter o atual modelo integrado de abastecimento para a região", disse Cerveró. O diretor da Petrobras explicou que ofereceu um naco dessas empresas ao governo boliviano há cerca de dois anos. As conversas só não foram adiante devido à troca de governo no país. Sem ver obstáculos em ter a YPFB como sócia da Petrobras, Nestor Cerveró disse que ainda não existe proposta concreta e nem definição, por exemplo, do percentual de participação societária e o preço. A Petrobras aguarda o início das negociações com o presidente eleito, Evo Morales. Vai tentar um encontro quando ele estiver em Brasília - onde se reúne com o presidente Lula no próximo dia 13 -, antes da sua posse, dia 22. Para o secretário executivo da Associação Latino-Americano de Integração (Aladi), Álvaro Ríos, que foi ministro de Minas e Hidrocarbonetos no governo de Carlos Mesa, que deixou a Presidência em 2005, o novo governo da Bolívia vai tentar uma aliança estratégica com a Petrobras, empresa que na opinião dele tem a maior importância entre todas as outras que operam no país. "O novo governo da Bolívia terá que incorporar-se ao mundo. E para isso será preciso que o governo trabalhe com o setor privado em novos moldes", diz Ríos. Morales terá pela frente a árdua tarefa de renegociar com as petroleiras a migração de 70 contratos em vigor. A nova legislação estabelece que as companhias poderão optar por três modelos de contratos - de associação, produção compartilhada ou operação - cujos termos ainda são desconhecidos. Na fronteira, os projetos mais aguardados são o da licitação de metade das reservas de minério de ferro de Mutun, uma área que faz divisa com o Mato Grosso do Sul onde se encontra a outra metade da jazida; e o pólo gás-químico que terá participação da Petrobras, Brasken, Repsol e YPFB. Atualmente as refinarias bolivianas operam com margens de lucro "adequadas", segundo uma fonte da companhia, mas isso só é possível porque o preço do petróleo produzido na Bolívia é tabelado e custa US$ 27,11. Já o óleo diesel, que é importado, tem preço subsidiado pelo governo com recursos do Tesouro. As refinarias Gualberto Villaroel e Guilhermo Elder Bell respondem por quase 100% da capacidade de refino da Bolívia e foram compradas pela Petrobras e pela Perez Companc (posteriormente adquirida pela Petrobras) em 1999 por US$ 102 milhões. Esse valor incluía o ativo imobilizado (avaliado na época em US$ 62 milhões) e estoques de petróleo e derivados. Desde então, a Petrobras aumentou a capacidade de refino de 47,5 mil barris/dia para 60 mil barris diários. Apesar da iniciativa "liberal" no governo Banzer de privatizar as estatais em 1999, os aumentos do petróleo levaram a intervenções posteriores nos preços, ora do petróleo, ora nas margens de refino, que chegaram a ser zeradas.