Título: Importações da China devem superar a marca de US$ 1 trilhão até 2010
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 12/12/2005, Brasil, p. A4

A China quer aproveitar a conferencia ministerial de Hong Kong para mostrar que todo mundo está ganhando com sua entrada na Organização Mundial do Comércio (OMC), há quatro anos, e que vem respeitando seus compromissos. Pequim diz que, nesse período, criou um mercado adicional de US$ 100 bilhões por ano com o aumento de suas importações. As compras externas da China saltaram de US$ 104 bilhões em 1993, para US$ 225 bilhões em 2000, e US$ 561 bilhões no ano passado. A expectativa é que as importações do país superem US$ 1 trilhão até 2010. Mas ao mesmo tempo em que cria oportunidades, como argumenta o governo chinês, o crescimento do país asiático assusta os empresários em todo o mundo e também seus parceiros de negociação multilateral. As exportações da China saíram de US$ 92 bilhões, em 1993, para US$ 249 bilhões, em 2000, e US$ 593 bilhões, em 2004. A China ingressou na OMC em 2001. Entre 2000 e 2004, as exportações mundiais cresceram 41%, enquanto as vendas externas chinesas aumentaram 138%. A participação da China no comércio mundial saltou de 5%, em 2000, para 8,4% no ano passado. Mário Marconini, especialista em comércio exterior e ex-economista da OMC, explica que a entrada da China na entidade levou vários setores industriais a preferir acordos bilaterais e temer os resultados das negociações da OMC. "Qualquer movimento multilateral representa abrir mercado para a China." Os chineses insistem que estão cumprindo "tudo" que prometeram ao entrar na OMC, incluindo a derrubada das tarifas médias de 45% para 9,9%, num "doloroso" ajuste de sua economia. Ao mesmo tempo, o país reclama que os "campeões de liberalização" estão utilizando cotas para barrar os tecidos chineses. Americanos e europeus reclamam que persistem barreiras no setor automotivo, bancário e de seguros, entre outros, além do desrespeito à propriedade intelectual. Sindicalistas de Hong Kong utilizarão a conferência ministerial para denunciar a péssima situação de trabalhadores chineses, na ausência de direitos sindicais no pais. "A China quer mostrar que respeita as regras da OMC, mas não respeita as regras da Organização Internacional do Trabalho, da qual também é membro", diz Elizabeth Tang, sindicalista de Hong Kong. O embaixador chinês junto a OMC, Sun Zhenyu, diz que, no ano que vem, acaba a cota para entrada de soja na China, o que significa aumento das exportações brasileiras. "Nossa aliança é importante, e o Brasil tem enorme potencial para exportar para a China também produtos industriais", diz. O Brasil viveu um período de euforia com a China em 2003, com a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Pequim. As exportações brasileiras para a China cresceram 79,8% em 2003, para US$ 5,44 bilhões. Naquele ano, o Brasil apurou superávit de US$ 2,38 bilhões com a China. O país exporta, principalmente, soja e minério de ferro. Mas a China foi se transformando em motivo de preocupação para os empresários. Enquanto as exportações do Brasil para a China cresceram 20% em 2004, as importações saltaram 73%. Este ano as exportações para o país asiático devem crescer 20%, e as importações mais de 40%. O Brasil viu seu superávit com a China minguar para US$ 1,73 bilhão, em 2004, e US$ 1,24 bilhão de janeiro a novembro deste ano. "A competitividade deles é muito alta e o Brasil é lento em tomar medidas de proteção", diz Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).