Título: Exigências do G-33 podem ser nova ameaça para a negociação agrícola
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 12/12/2005, Brasil, p. A4

Recém-chegado a Hong Kong, ainda com ar cansado, pela diferença de fusos horários, o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, reuniu-se com o ministro de Comércio da Índia, Kamal Nath, para buscar uma posição conjunta sobre um tema que ameaça trazer novos problemas ao esforço de derrubar barreiras agrícolas entre os países-sócios da Organização Mundial do Comércio (OMC): a exigência, por 33 nações em desenvolvimento, como China e Índia, de maior proteção a "produtos especiais", importantes para a agricultura familiar e para a cesta de consumo nesses países. O temor de expor vastas populações rurais a uma avalanche de importações de produtos agrícolas subsidiados de países ricos (e mercadorias de países competitivos em agricultura, como o Brasil) pode levar o chamado G-33 a dificultar a negociação para abrir mercados em agricultura. Esses países reivindicam que, no mundo em desenvolvimento, um percentual significativo de produtos agrícolas mantenha tarifas mais altas de importação, por tempo mais longo. "Se não resolver a questão, corre o risco sério de ter problemas em Hong Kong", reconheceu Amorim, após a conversa com o ministro indiano. Os diplomatas brasileiros defendem menor empenho em abrir os mercados dos países em desenvolvimento, como China e Índia, por acreditarem que eles se abrirão naturalmente ao Brasil com as necessidades alimentares de suas gigantescas populações, que têm aumentado a renda e o consumo. Diplomatas brasileiros reconhecem que, sem avanços nesse tema em Hong Kong, há riscos de divisão no G-20, grupo de países em desenvolvimento capitaneado por Brasil e Índia contra barreiras agrícolas dos países ricos. O assunto deve ser o principal mote das organizações não-governamentais, que, em uma bem comportada passeata, acompanhada por policiais e uma brigada de lixeiros que recolhia os papéis deixados nas ruas, levou três mil manifestantes - na maioria asiáticos - a ocupar as principais avenidas de Hong Kong. "Agricultura fora da OMC, parem a importação de legumes ", dizia uma bandeira carregada por um grupo de mulheres filipinas. Atrás, manifestantes coreanos defendiam a pouco competitiva lavoura de arroz, que emprega principalmente idosos no país. Uma das propostas mais debatidas na reunião será a derrubada de tarifas de importação para produtos dos países mais pobres nos mercados dos países ricos e em desenvolvimento. "Espero que isso se resolva nos primeiros dias", disse o ministro Amorim, ao comentar as propostas de tratamento diferenciado aos países mais pobres. Os Estados Unidos têm resistido à idéia, e o negociador americano, Robert Portman insinua apenas de que deverá, em Hong Kong, anunciar medidas para facilitar a importação de países africanos que se dizem prejudicados pelos subsídios ao algodão americano. (SL e AM)