Título: Objetivo da campanha é pautar agenda eleitoral
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 12/12/2005, Política, p. A8

A capacidade de mobilização de Guilherme Afif Domingos será mais uma vez testada no começo do próximo ano, antes do PFL decidir se lança candidatura própria para o governo estadual. Usando a estrutura das sucursais em 413 municípios paulistas da Federação das Associações Comerciais de São Paulo (Facesp), o dirigente irá percorrer todo o Estado entre janeiro e fevereiro participando do lançamento do movimento "Quero Mais Brasil" e coletando 1,5 milhão de assinaturas para um projeto de iniciativa popular de claro caráter político: manter a discussão da redução da carga tributária em primeiro plano. O anteprojeto visa regulamentar o parágrafo 5º do artigo 150, obrigando a discriminação dos impostos recolhidos em cada nota fiscal emitida. Atualmente, apenas o ICMS é discriminado em contas de consumo e faturas. Será mais uma ocasião para protestar contra o peso da carga tributária. Mas o movimento vai muito além disso: propõe quase uma plataforma de governo, centrada em transparência de gestão e atração de investimentos externos. Segundo um dos integrantes da equipe que tratará da divulgação do movimento, "o ano eleitoral é uma feliz coincidência, porque permite criar uma agenda nova para pautar a eleição". O movimento terá caráter oficialmente apartidário. A grande maioria das 118 entidades que já aderiram à iniciativa, como a Associação Médica Brasileira e a seção paulista da OAB, por exemplo, não têm intenção de se vincular a nenhuma candidatura no próximo ano. Mas outras, como a Força Sindical, já trabalham na oposição ao governo Lula. "Trata-se de um movimento propositivo , visando ao bem comum. Suas reivindicações são as mesmas do cidadão brasileiro em geral" , afirma o texto de apresentação da campanha. O tom do manifesto de lançamento é crítico ao governo. "Ao mesmo tempo em que a máquina arrecadadora de impostos retira do setor produtivo bilhões de reais por ano (...) pouco é investido em infra-estrutura, fundamental para a atração de novos investimentos, e serviços básicos para a população. O setor público deve passar por um choque de gestão", diz o texto. Mesmo ausente das peças publicitárias, Afif deve garantir exposição pública semelhante à que recebeu quando reuniu 1.111 entidades no Clube Espéria, em São Paulo, em fevereiro deste ano, para protestar contra o aumento da carga tributária gerado pela Medida Provisória 232, que acabou derrubada pelo Congresso. A MP 232 corrigia a tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física, mas em troca mudava a base de cálculo do IR para pessoas jurídicas de 32% para 40% sobre o lucro presumido. No ano passado, Afif tocou outra campanha de impacto: o "feirão dos impostos", uma exposição de produtos, simulando um supermercado, em que se colocava o preço de varejo de um produto e quanto ele seria mais barato sem os encargos tributários. A instalação rodou todo o país. Antes de ser um investimento eleitoral, estas campanhas sedimentaram a imagem de Afif como liderança patronal em um meio altamente fragmentado: o presidente da Associação Comercial divide espaço no meio empresarial com outras entidades como a Fecomércio, o Ciesp, o PNBE e a Fiesp, em São Paulo, além da CNI em Brasília, que atuam muitas vezes de forma descoordenada no Congresso por uma agenda de interesse do patronato. Em meio ao insucesso patronal ao tentar colocar a reforma tributária em pauta, a derrota da MP 232 foi o maior triunfo empresarial dos últimos anos. (CF)