Título: PFL prepara lançamento de Afif para negociar chapa nacional com PSDB
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 12/12/2005, Política, p. A8

Com a perspectiva de assumir o governo paulista, a prefeitura da capital ou até mesmo os dois cargos, caso o governador Geraldo Alckmin e o prefeito de São Paulo, José Serra, ambos tucanos, se desincompatibilizem em abril, o PFL paulista se articula para negociar alianças tendo, pela primeira vez, um pré-candidato ao governo : o presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Guilherme Afif Domingos. "Nunca estivemos em posição tão confortável . Sou defensor da tese de uma candidatura própria e o Guilherme aceita", disse o vice-governador de São Paulo e presidente regional Claudio Lembo. O trânsito de Afif dentro do partido nos âmbitos local e nacional é pleno. Na semana passada, o dirigente almoçou em São Paulo com Lembo e o presidente da sigla, o senador Jorge Bornhausen (SC), que o apoiou em 1989 quando Afif, ainda no PL, tentou a Presidência da República. Seu vice na Associação Comercial é o vice-prefeito paulistano, o pefelista Gilberto Kassab. O raciocínio que abre caminho para uma candidatura de Afif passa pelas situações internas do parceiro preferencial na eleição presidencial, o PSDB, e do principal inimigo, o PT. A tese é que as dificuldades de ambos podem fazer com que o quadro paulista se dissocie do nacional, em que a polarização entre tucanos e petistas é o cenário mais provável. No caso dos tucanos, a disputa entre Alckmin e Serra pela candidatura presidencial inibiu que um dos diversos pretendentes do PSDB se firmasse como opção. No momento em que o partido escolher seu candidato a presidente, dentro de três ou quatro meses, começaria a corrida paulista com um candidato a governador com baixos índices nas pesquisas de intenção de voto. Há uma profusão de interessados no PSDB. Estão no páreo o vereador José Aníbal, o ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza, o secretário municipal de Governo, Aloysio Nunes Ferreira Filho, o líder tucano na Câmara, Alberto Goldman e, em um patamar abaixo de exposição, os secretários estaduais Arnaldo Madeira (Casa Civil), Emanoel Fernandes (Habitação), Saulo de Castro (Segurança) e Gabriel Chalita (Educação). Nenhum deles é candidato natural, como Mário Covas foi em 1990, 1994 e 1998 e Alckmin em 2002. Do lado petista, o partido foi abalado pelo escândalo que se abateu sobre a sigla este ano, tirando do jogo lideranças como os ex-deputados José Dirceu e José Genoino e acabando com o favoritismo que o PT dispunha. A luta interna entre o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (SP) e a ex-prefeita Marta Suplicy pode deixar seqüelas. A terceira variável para uma candidatura própria do PFL em São Paulo, é o PMDB, uma outra opção de aliança local para a sigla, caso caia a regra da verticalização das coligações. As conversas para alianças entre as duas siglas já começaram. Com a ameaça da candidatura Afif no cenário e o controle da máquina pública estadual ou municipal em suas mãos, o PFL teria um trunfo para forçar o PSDB a fazer mais concessões para a aliança presidencial. É consenso dentro da cúpula pefelista que nada será mais importante ao negociar com o PSDB do que bons acordos regionais. Em seu atual mandato como presidente da entidade patronal, Afif conseguiu projeção como líder de classe, promovendo atos contra o peso da carga tributária. Poderia desenvolver uma campanha tratando o eleitor como contribuinte e consumidor. Afastado de disputas eleitorais desde 1990, quando concorreu e perdeu o Senado , Afif não fala sobre o tema. Procurada pelo Valor, sua assessoria de imprensa nega que o empresário tenha feito qualquer gesto no sentido de construir uma candidatura ao governo estadual. Para pefelistas, disse que tentará manter-se em silêncio sobre o assunto até março. Ao longo das últimas duas décadas, Afif alternou a militância em entidades de classe com a vida pública. Era diretor da ACSP quando o presidente da instituição, Paulo Maluf , foi eleito indiretamente governador e o nomeou secretário de Agricultura , em 1979. Três anos depois, foi candidato a vice-governador na chapa do PDS e perdeu a primeira eleição. Voltou então à Associação Comercial, como presidente. Lançou a primeira das mobilizações empresariais que terminariam por caracterizá-lo, a favor da criação de um tratamento legal diferenciado para microempresários. Deu certo e em 1985 foi criado o Estatuto da Microempresa, pavimentando a eleição para deputado federal no ano seguinte. Ao disputar a Presidência, recebeu 4,8% dos votos. No ano seguinte, aliou-se com o PMDB e perdeu o Senado. Mais uma vez voltou para a política das entidades. Foi eleito presidente da Confederação das Associações Comerciais do Brasil (CACB) e para a presidência do Conselho Deliberativo do Sebrae entre 1993 e 1995. Três anos depois, outro retorno à política, como secretário municipal de Planejamento no governo de Celso Pitta , em São Paulo. Era uma forma de sedimentar a aliança PPB/PFL em 1998, estratégica para a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso. Saiu da administração Pitta logo depois da eleição. Em 2003, fez o terceiro retorno, assumindo novamente a Associação Comercial e a Federação Paulista das Associações Comerciais. Mas continuou fazendo parte do diretório nacional do PFL.