Título: Governo estuda reduzir mistura de álcool na gasolina
Autor: Mônica Scaramuzzo
Fonte: Valor Econômico, 05/01/2006, Brasil, p. A2

O governo brasileiro estuda, ainda com certa relutância, reduzir a mistura de álcool dos atuais 25% para 20% na gasolina. A medida seria uma manobra para tentar inibir o aumento dos preços dos combustível nas bombas, segundo Ângelo Bressan, diretor do Departamento de Cana e Agroenergia do Ministério da Agricultura. "Estamos estudando, consultando técnicos do Ministério da Agricultura, para analisar a viabilidade da redução da mistura do álcool na gasolina", disse Bressan. Segundo ele, a medida não é dada como certa e encontra resistências. "Primeiro, a redução do álcool encarece o preço da gasolina nas bombas. Também pode arranhar a imagem do setor, uma vez que se cria um ambiente de falta de álcool no mercado", disse. Para compensar o aumento do preço da gasolina - decorrente da menor presença de álcool no combustível -, uma proposta seria reduzir a Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), hoje em R$ 0,28 por litro. Bressan negou que haja crise de desabastecimento no país. Ele atribui o aumento dos preços do álcool ao período de entressafra da cana no Centro-Sul. O litro do álcool anidro (misturado à gasolina) está cotado a R$ 1,0904 (sem imposto), posto usina, com valorização de 24% no ano passado, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). O preço do litro do hidratado sai a R$ 1,00732, alta de 33% em 2005. A política de compra das distribuidoras tem sido da "mão para boca", na expectativa de maior estabilização dos preços, segundo o Sindicom (que reúne as distribuidoras). No início da próxima semana, entre os dias 10 e 11, representantes dos ministérios da Agricultura e Minas e Energia deverão se reunir com os usineiros para discutir o aumento do álcool e o desabastecimento. Para Antonio de Padua Rodrigues, diretor da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), a redução da mistura de álcool na gasolina não é viável neste momento e não vai gerar o excedente suficiente para pressionar os preços do álcool combustível nas bombas nos próximos três meses. Cada ponto percentual reduzido significa volume de 250 milhões de litros de álcool por ano. Se o governo reduzir a alíquota de 25% para 20%, representará uma oferta anual de 1,5 bilhão de litros. Rodrigues argumentou que as usinas do Centro-Sul deverão começar a safra de cana mais cedo - ela será antecipada de maio para março este ano. A Unica confirma, contudo, que a oferta de álcool está ajustada, uma vez que houve uma quebra na produção em torno de 700 milhões de litros na safra 2005/06.