Título: Lula diz não ver chance de derrota
Autor: Silveira, Igor
Fonte: Correio Braziliense, 10/05/2010, Política, p. 4

Em entrevista ao jornal espanhol El País, presidente brasileiro dá eleição de outubro como ganha, critica a ONU e irrita oposição

Usando uma metáfora futebolística, tão comum nos discursos de Luíz Inácio Lula da Silva, o presidente da República parece um daqueles jogadores que entram na reta final de um campeonato com excesso de confiança. Comportamento perigoso, responsável por algumas das grandes decepções do esporte bretão. Em entrevista ao jornal espanhol El País(1), publicada ontem, Lula se gabou de ter feito um governo com muitas alegrias para a população e disse que ¿nunca antes na história desse país, aconteceram coisas tão importantes¿ como na gestão do petista. A declaração mais polêmica, no entanto, foi dada quando questionado sobre a corrida presidencial: ¿Deixe-me dizer que não vejo a possibilidade de perdermos as eleições¿.

Na entrevista realizada em Brasília, por Juan Luis Cebrián, o presidente Lula também destacou o bom momento econômico do Brasil. O líder brasileiro disse que o país, se mantiver a firmeza nas políticas fiscais e monetárias, além de investimentos e controle da inflação, tende a ser, em um curto espaço de tempo, uma potência respeitada em todo o mundo. ¿Podemos ser a quinta economia mundial, em 2016, se seguirmos crescendo entre 4,5% e 5,5%¿, explicou o presidente.

Se, de fato, Lula pretende tentar uma vaga na Organização das Nações Unidas (ONU) depois de deixar a Presidência, como especulam analistas políticos de todo o mundo, a entrevista também serviu para mostrar alguns posicionamentos do chefe de Estado sobre a entidade. O presidente criticou a ausência do Brasil, da Índia ou de qualquer país africano no Conselho de Segurança do órgão. ¿Se a ONU continuar com pouca representatividade, nunca vai servir adequadamente à governança global.¿

Oposição irritada O líder do Democratas no Senado, o potiguar José Agripino, ficou claramente irritado com a entrevista de Lula ao El País. O membro da oposição chamou as afirmações do presidente brasileiro de arrogantes e precipitadas. ¿Ele é muito óbvio quando diz que a população não quer retrocesso. Ninguém quer. Agora, afirmar que o Partido dos Trabalhadores vai ganhar a eleição presidencial, quase seis meses antes do pleito, é extremamente arrogante¿, destacou Agripino. ¿Esse tipo de declaração é um desrespeito com os eleitores porque o presidente está querendo decidir pelo povo¿, completou.

José Agripino falou, ainda, que Lula é injusto ao não reconhecer os feitos alcançados no governo FHC. Do outro lado, o líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), colocou panos quentes sobre a discussão. De acordo com o petista, o presidente da República sabe que as eleições não estão decididas e que essa é só uma maneira de Lula se preparar para entrar pesado na campanha da pré-candidata do PT, Dilma Rousseff.

Vaccarezza, porém, não perdeu a oportunidade de alfinetar a oposição. ¿Trata-se apenas da opinião do presidente. Mas se pararmos e prestarmos atenção, já tem candidato definindo equipes ministeriais¿, provocou, referindo-se ao tucano José Serra, que, semana passada, em Minas Gerais, revelou que gostaria de contar com o Partido dos Trabalhadores e com o Partido Verde em sua gestão presidencial.

1 - Morde e assopra O jornal El País, que deu grande destaque ao presidente brasileiro na edição de domingo, mesclou momentos de elogios e críticas a Lula. A publicação fez afagos no ego do líder brasileiro ao ressaltar os grandes feitos do petista durante os dois mandatos como chefe de Estado. Contudo, o jornal espanhol também publicou, ontem, um artigo do renomado analista político colombiano Moisés Naím, que teceu duras críticas contra Lula. ¿A lista de contradições, incoerências e exemplos de dois pesos e duas medidas do governo Lula será triste em longo prazo¿, escreveu Naím, que também falou mal do comportamento do presidente com outros líderes sul-americanos: ¿Ele entrará para a história como um grande presidente para o seu povo e um vizinho muito ruim para os amantes da liberdade.¿

Sem compromisso no Dia das Mães

Os três principais pré-candidatos à Presidência da República passaram o Dia das Mães em casa, sem compromissos de campanha. Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PV) ficaram em Brasília e José Serra (PSDB) passou o domingo em São Paulo. A agenda de todos para esta semana está carregada de compromissos país afora.

Dilma vai passar o dia de hoje no Rio de Janeiro, onde almoça, na Baixada Fluminense, com o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT), pré-candidato ao Senado. A recepção vai ser promovida pela Associação de Prefeitos do Estado do Rio. Pela manhã, a petista participa de um seminário sobre a infraestrutura do Brasil, no Copacabana Palace Hotel. Amanhã, a ex-ministra terá cinco compromissos no Rio Grande do Sul.

O tucano José Serra também tem agenda cheia a cumprir hoje no Espírito Santo, ao lado do pré-candidato do PSDB ao governo do estado, o deputado federal Luiz Paulo Vellozo Lucas. O ex-governador de São Paulo desembarca em Vitória meio-dia e meia e segue direto para Cariacica, onde tem um almoço oferecido pela Colônia Italiana Capixaba. À tarde, Serra visita o Convento da Penha, o Polo de Confecções da Glória, a fábrica da Garoto, o Mercado Popular da Vila Rubim e o Bar do Ceará, onde vai experimentar um prato típico, a ¿pescadinha¿.

Marina Silva passará o dia em São Paulo, onde participará de seminário que discutirá segurança pública. Ontem, os três pré-candidatos saudaram as mães pelo Twitter. Marina postou um vídeo com uma gravação feita por ela em que homenageia os quatro filhos e o marido, ¿os que me fizeram mãe¿. Dilma parabenizou as mães do Brasil e lembrou que será avó em setembro. ¿Hoje é o nosso dia¿, escreveu. Serra, por sua vez, postou foto de sua infância no colo da mãe, Serafina, falacida em 2007, e dedicou o domingo à sua mulher, aos filhos e aos netos.