Título: Derrame de Sharon joga incerteza sobre Israel
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Fonte: Valor Econômico, 05/01/2006, Internacional, p. A7

O premiê de Israel, Ariel Sharon, 77, foi levado às pressas na noite de ontem para o hospital depois de sofrer um derrame sério e foi submetido a uma operação de emergência. Uma autoridade próxima a ele disse que não havia chance de recuperação. O vice-premiê, Ehud Olmert, assumiu o Executivo. O ex-general é há décadas uma figura-chave no Oriente Médio. Ultimamente, vinha dominando o cenário político do país e era favorito para conquistar a reeleição em março, pregando uma plataforma de pacificação com os palestinos. Sharon é uma figura personalista. Se tiver mesmo de deixar a cena, as relações na região passarão por uma mudança radical. As pesquisas mais recentes não mostram Olmert como tendo cacife político para ser um sucessor de longo prazo para o premiê. O gabinete marcou uma reunião para hoje. Sharon havia sofrido um derrame leve em dezembro, mas foi liberado pelos médicos. Estava marcada para hoje uma cirurgia para reparar um defeito no coração. Mesmo com a operação marcada, ele vinha mantendo um forte ritmo de trabalho, preparando-se para a eleição do dia 28 de março. As pesquisas de opinião mostram que Sharon, que é premiê desde 2001, liderava as intenções de voto com seu partido de centro, o Kadima - uma nova força política surgida do fracionamento do Likud, seu antigo partido. Nascido sob o nome russo de Ariel Scheinermann, em 27 de fevereiro de 1928, na vila de Kfar Malal, um território palestino administrado pelo Reino Unido, seu pai é de origem teuto-polonesa e a mãe de origem russa. Ambos eram militares socialistas de visão secular. Conhecido como "Arik", ele foi casado duas vezes. Sua primeira mulher, Margalith, morreu em um acidente de carro em 1962. Com ela, Sharon teve um filho, Gur, que morreu em 1967 por acidente ao brincar com um rifle. Sharon, então, casou-se com a sua cunhada Lily, irmã mais nova de Margalith, mãe de seus dois outros filhos Omri e Gilead. Lily morreu em 2000. A entrada de Sharon no mundo militar se deu aos 14 anos, quando se incorporou à Gadna, um batalhão paramilitar e, logo em seguida, à Haganah, outra força paramilitar que deu origem ao Exército, onde chegou ao posto de general. Por outro lado, ele foi acusado de crimes contra a humanidade. Dois episódios o marcaram: uma das ações sob seu comando no vilarejo de Kibya, hoje território da Jordânia, 45 casas foram destruídas, matando 69 civis. O governo de Israel baixou uma ordem mais tarde proibindo matar mulheres e crianças. Em 1982, quando Sharon era ministro da Defesa, as tropas de Israel que ocupavam parte do Líbano permitiram que milícias cristãs massacrassem palestinos nos campos de refugiados de Sabra e Chatila. (Com Folhanews)