Título: Acordo fecha impasse sobre gás russo
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Fonte: Valor Econômico, 05/01/2006, Internacional, p. A7
Rússia e Ucrânia fecharam um acordo ontem que encerra a disputa que interrompeu as remessas de gás para a Europa e abalou a confiança dos países que dependem da energia fornecida por Moscou. A Ucrânia concordou com um aumentar para quase o dobro do que vinha pagando pelo gás russo. "Um acordo rápido entre a Rússia e a Ucrânia é vital se os dois países querem manter sua posição de fornecedores seguros e confiáveis para a Europa", disse Andris Piebalgs, comissário de Energia da União Européia (UE). Empenhada em fortalecer seu papel de provedora de energia para as maiores economias do planeta, a Rússia assumiu no dia 1º a presidência do G-8 enfatizando que a "segurança energética" será um tema central de seu trabalho à frente do grupo. Piebalgs disse que a UE pressionou os dois lados para que chegassem logo a um entendimento e que o incidente serve como "lição" para os países europeus. Segundo Piebalgs, a UE precisa cortar seus gastos de energia e descobrir fontes alternativas de fornecimento. A Rússia fornece 25% de todo o gás consumido na Europa. As remessas já voltaram ao normal. Tanto Rússia como Ucrânia disseram-se vitoriosas no acordo, que envolve o fornecimento de gás do Turcomenistão e um sistema de pagamento que tem a intermediação da RosUkrEnergo, uma misteriosa companhia com sede na Suíça, controlada meio-a-meio pela estatal russa Gazprom e pelo banco Raiffeisen, da Áustria. Fontes familiares ao acordo dizem que essa parte está nas mãos de ucranianos. Pelo acordo, a Gazprom venderá gás para a RosUkrEnergo a US$ 230 por mil metros cúbicos. Já a Ucrânia comprará o gás da RosUkrEnergo por US$ 95 - o máximo que o país dizia ter condições de pagar. Para um porta-voz da Gazprom, a RosUkrEnergo compensará a diferença nos preços comprando gás do Turcomenistão, mais barato que o russo (US$ 50). A crise começou quando a Rússia passou a exigir que a Ucrânia pagasse US$ 230 por mil metros cúbicos de gás - em vez do preço subsidiado de US$ 50. Após o fim da URSS, em 1991, a Rússia manteve os preços do gás baixos para as ex-repúblicas soviéticas, como forma de deixá-las sob sua influência. Agora, decidiu conceder esse benefício só àquelas que se mantêm fiéis à sua liderança, como Belarus. Para analistas, a estratégia de Moscou de cortar o fornecimento de gás desagradou aos parceiros comerciais na Europa ocidental e ao mesmo tempo fracassou no intento de intimidar os países vizinhos. "O incidente faz da Rússia qualquer coisa, menos um 'fornecedor global confiável de energia'", disse Andrei Illarionov, que no fim do ano demitiu-se do cargo de principal conselheiro econômico do presidente Vladimir Putin. "É um grande erro para a Rússia no longo prazo", disse Jochen Wermuth, diretor-executivo da Wermuth Asset Management de Frankfurt e consultor do Greater Europe Fund.