Título: Lula não dá garantias ao PMDB em 2006
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 17/11/2004, Política, p. A7

Partidos Renan é frustrado na tentativa de obter do presidente apoio para negociar coligações estaduais

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva frustrou as expectativas do líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), de obter o apoio para a abertura de negociações entre o partido e o PT para a formação de coligações estaduais em 2006. Calheiros e Lula conversaram no avião, durante a viagem do presidente a Maceió, anteontem. O pemedebista é um dos articuladores da ala governista do partido, que disputa o poder dentro da sigla contra os governadores, que defendem uma posição de independência e a entrega dos cargos no governo, e os parlamentares e dirigentes que tentam levar o PMDB para a oposição. A antecipação das negociações de 2006 seria um fato novo que fortaleceria os governistas, podendo até impedir a convenção de dezembro que será definitiva sobre a permanência do partido na base. Calheiros relatou a Lula que o PMDB já dispõe de dezoito candidaturas consolidadas aos governos estaduais. Os pemedebistas admitem que a negociação seria impossível nos Estados onde o embate entre os partidos é direto, como Pernambuco, Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Piauí e Acre. Nos três primeiros Estados, o governador é do PMDB e o PT é o principal opositor. Nos três últimos, ocorre o inverso. Nos demais Estados, o comando pemedebista crê em coligações. O presidente teria acenado com um novo jantar com os parlamentares do partido, mas não marcou data para o encontro. Os governistas do PMDB têm pressa, já que a falta de resultados até dezembro fortalece a ala contrária dentro da sigla. Hoje, haverá um novo momento de negociação entre governo e PMDB, desta vez em um almoço do presidente da sigla, Michel Temer, e o coordenador político do governo, ministro Aldo Rebelo. Ontem, Temer deu demonstrações de que a crise no seu partido está longe de um desfecho: "Estou ouvindo o partido. O ponto final desta audiência será exatamente a convenção. Evidente que isso não impede que nós conversemos. O ministro Aldo é figura cautelosa, que faz um bom trabalho para o governo", disse ele. Caso não haja fato novo até dezembro, os governistas do PMDB poderão lançar mão de manobras para adiar a convenção. Está em estudos uma reunião das bancadas do partido na Câmara e no Senado para a produção de uma nota com um apelo à Executiva Nacional pela transferência da convenção. A ala pemedebista fiel ao Planalto aposta em uma maioria folgada dentro do Congresso. Boa parte dos deputados confiam sua eleição aos votos em pequenas cidades que dependem de recursos federais. Outra esperança dos governistas é conseguir uma definição em prol da permanência no governo da maior parte dos diretórios estaduais, na consulta prévia que ocorrerá no dia 5. O objetivo é deixar os oposicionistas isolados em de sete a dez Estados. O pior cenário é não conseguir contornar a convenção. Embora controlem menos Estados, os governadores e os oposicionistas estão na dianteira nos de maior peso na convenção, como São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.