Título: Providências combinadas
Autor: Tahan, Lilian; Mader, Helena
Fonte: Correio Braziliense, 09/05/2010, Cidades, p. 27

Gestores dizem que, para estancar o desperDíCio de recursos públicos, é preciso informatizar o controle dos estoques, descentralizar os recursos e priorizar a dosagem individualizada

Profissionais da saúde em postos de comando nos hospitais públicos do Distrito Federal são unânimes em apontar que a solução para coibir desvios e desperdício de remédios e insumos será atingida a partir de três providências combinadas: a informatização do controle de estoques e de gestão nos hospitais, a implantação da dose individualizada e a descentralização de recursos. As unidades de saúde que passaram pela experiência notaram melhoria no atendimento ao público e economia de materiais e medicamentos. A dose individualizada é considerada uma revolução na rotina dos hospitais. Nesses casos, há um setor específico para calcular a necessidade de cada paciente internado nas dependências da unidade de saúde pelas 24 horas seguintes. Quando esse sistema é utilizado, não há sobras. Consome-se o que é prescrito pelo médico. Mas o funcionamento desse método depende da existência de uma equipe de farmacêuticos ou mesmo enfermeiros treinada para lidar com essa técnica. Além disso, o processo deve ser todo organizado por meio de um programa de computador. O Hospital Regional do Gama (HRG), por exemplo, utilizou durante dois anos e seis meses uma tecnologia australiana com adaptações para a necessidade local. Mas o contrato emergencial foi suspenso e a unidade aguarda novo processo de seleção. O Hospital Regional de Samambaia é o único totalmente informatizado na rede pública. A iniciativa aumentou a segurança e também melhorou o atendimento prestado aos pacientes. Com o sistema, médicos e seguranças podem acompanhar tudo o que se passa no local, quem entrou e saiu, quais pacientes receberam visita e em que horário. O mais importante na informatização é o controle do tratamento de cada pessoa internada ou que passa pelos consultórios. Com o sistema eletrônico em Samambaia, os prontuários dos pacientes ficam disponíveis na rede de computadores. Ali estão armazenados dados como a medicação que cada um tomou, os exames realizados e antigas internações. Além de economizar espaço físico, já que os prontuários de papel normalmente ocupam grandes salas, a informatização do prontuário garante um atendimento mais rápido e evita casos de desvios de medicamentos e produtos. O diretor da unidade, David Maia, conta que a instalação do novo sistema permitiu uma economia grande em quase todos os setores. ¿O paciente chega com o cartão do SUS, que é inserido em uma leitora. Automaticamente, todos os dados da pessoa são acessados pelo computador. No caso do uso de medicamentos, o remédio só vai sair da farmácia quando o médico inserir o pedido no receituário eletrônico¿, explica David. ¿Tudo fica registrado e o controle é bem rígido. A informatização é a melhor forma de garantir a segurança dos hospitais¿, acrescenta.

Monitoramento No Hospital Regional da Asa Norte (Hran), as unidades começaram a substituir montanhas de prontuários em papel por um sistema informatizado. Quando o mecanismo estiver funcionamento em sua capacidade total, será possível, por exemplo, monitorar o histórico recente e passado de todos os pacientes que dão entrada no Hospital. ¿Eu conseguirei observar quem está sendo atendido em qual consultório, o que foi prescrito, se o paciente realizou exames, se foi encaminhado para o retorno, a que horas deixou o hospital¿, conta o diretor do Hran, Renato Lima.

Para efeito de demonstração, o médico mostrou à reportagem que o sistema é interligado à Secretaria de Saúde e pode ser útil na consulta de insumos e medicamentos disponíveis na rede. Na última terça-feira, quando o diretor checou a quantidade de rolos de esparadrapos, descobriu que o estoque no Hran havia terminado e que restavam em toda a rede apenas 153 rolos. Dois dias depois, o mesmo problema, desta vez no Hospital de Base, foi relatado pelo Correio. ¿É sensacional o efeito que a informatização terá sobre a qualidade do serviço oferecido nos hospitais. A economia sensível e a agilidade nos atendimentos serão apenas dois dos benefícios notados¿, acredita o diretor do Hran.

A informatização é a melhor forma de garantir a segurança dos hospitais¿

David Maia, diretor do Hospital Regional de Samambaia

Uma das primeiras decisões do novo governo do Distrito Federal foi pulverizar o orçamento da saúde, antes concentrado na Secretaria de Saúde, para os hospitais. Com isso, as unidades regionais vão ter autonomia para repor estoques de medicamentos e insumos. A medida era reivindicada por médicos há anos. Mas encontrava resistência política, porque esvazia de certa forma o poder da secretaria, que lidava sozinha com o orçamento bilionário. ¿Desde a pequena contratação até os casos de compras mais complexas, o hospital precisava submeter as necessidades à secretaria. É uma burocracia injustificável diante da urgência de situações que não podem esperar¿, diz o governador Rogério Rosso (PMDB). Ele afirma que, a partir da semana que vem, os hospitais terão acesso às contas pelas quais vão poder movimentar os recursos da saúde. ¿Cada hospital receberá uma quantia de acordo com critérios como o volume de atendimentos¿, afirma Rosso. A descentralização é a principal aposta do governo para resolver parte do desabastecimento que castiga a rede pública de saúde. O governador disse que pretende atacar a falta de controle que causa prejuízos milionários ao sistema como relatado na reportagem implementando a informatização em 100% dos hospitais. Hoje, apenas um terço das unidades trabalha com o auxílio de programas de computadores. ¿A meta é chegar até dezembro com controle de estoque totalmente digitalizado, além da aplicação do prontuário online¿, informa. O governo ainda promete diminuir a carência de recursos humanos nos hospitais e nos postos de saúde adiantando a contratação de profissionais aprovados em concursos. Hoje, há um deficit de todo tipo de especialidades na rede. Desde vigilantes a enfermeiros, médicos, psicólogos, técnicos.