Título: Exportações de maçã do país têm o menor preço médio desde 1990
Autor: Vanessa Jurgenfeld
Fonte: Valor Econômico, 05/01/2006, Agronegócios, p. B10

Fruticultura Grande oferta global explica a queda; empresas brasileiras reduzirão embarques

Os produtores brasileiros de maçã receberam em 2005 os valores mais baixos pela fruta exportada desde 1990. No ano, a cotação média alcançou US$ 460 por tonelada. Somente há 16 anos, quando foram praticados US$ 400 por tonelada, o valor pago às empresas brasileiras de maçã era pior, segundo levantamento da Epagri-Cepa - empresa de pesquisa agropecuária de Santa Catarina - baseado em dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). O preço médio de 2005 ficou quase 3% abaixo da média de 2004 (US$ 474 por tonelada), que por sua vez já havia sido 4% menor que a de 2003. Mas no ano passado a queda em dólar foi mais sentida pelos exportadores em virtude da desvalorização da moeda americana em relação ao real. A tendência de baixa reflete principalmente a grande oferta global de frutas, dada a grande produção em países como Argentina, Chile, China e Austrália. A situação prejudicou a formação de preços no principal mercado externo para a maçã brasileira, a União Européia, já que o dólar também é referência. Como resultado, muitas empresas do país vão reduzir sua participação no mercado internacional este ano. A Rasip, de Vacaria (RS), prevê exportar 30% menos em 2006. De acordo com Ademar Kurmann, diretor-geral da companhia, a colheita no ano será 10% menor, mas as exportações cairão ainda mais. "Houve queda de preços em dólar, as perdas cambiais foram de cerca de 20% e houve aumento de 20% no frete marítimo. Vamos acessar os mesmos mercados, mas em volumes menores, com os pés no chão". Em 2005, as exportações representaram 19,6% da receita líquida da Rasip. Neste ano, espera-se que elas respondam por 9%. A Renar Maçãs, de Fraiburgo (SC), faz planos para apenas atender alguns poucos clientes no exterior. Conforme seu diretor de relações com investidores, Ricardo Sampaio, a empresa não quer fechar portas no exterior, mas deixará de atender alguns países, como a Indonésia. "Podemos mudar a estratégia ao longo do ano, de acordo com o comportamento de preços". Sampaio considera 2005 o pior ano de todos os tempos para a exportação de maçã. "Entre junho e agosto, houve momentos em que o valor em dólar não pagava sequer a embalagem", disse. No ano passado, no primeiro semestre (período em que as exportações normalmente são mais aquecidas), a Renar exportou 44% de sua produção, sobretudo para a Europa, que absorveu 92% das vendas. A companhia, que tem papéis negociados em bolsa, prefere não fazer estimativas para 2006. As ações ordinárias da empresa, que começaram a ser negociadas na Bovespa em 28 de fevereiro de 2005, já caíram 47,5% desde então por conta principalmente do mercado adverso. Neste início de ano, época de negociações no exterior por conta da proximidade da colheita no Brasil, muitas empresas estão postergando o fechamento de contratos ainda à espera de uma melhor definição sobre os rumos do câmbio. Para os preços, há boas perspectivas. Espera-se que o Chile, por exemplo, direcione suas vendas a um antigo comprador, os Estados Unidos, por conta de menor concorrência; para a Argentina, as previsões apontam para uma safra menor em virtude de problemas climáticos. Pesam contra, contudo, a entrada dos novos membros na União Européia, alguns deles - como Polônia e Hungria - grandes produtores de maçã, a continuidade de vendas maciças por parte da China e o aumento dos índices de desemprego na Europa. Luiz Marcelino Vieira, analista da Epagri/Cepa, acredita que haverá mais produtores brasileiros acessando o mercado doméstico em 2006, onde os preços estiveram bons no ano passado por conta da oferta menor. Ele explica que a produção nacional será ainda menor neste ano, e que, conseqüentemente, o produtor conseguirá bons preços. Ainda mais se a fruta tiver qualidade, o que fará com que o percentual da produção voltada para a indústria (frutas miúdas, usadas para doces e sucos e vendidas mais baratas) diminua. Na região Sul do país, a colheita de maçã começará em fevereiro. No total, a produção brasileira deverá apresentar recuo nesta safra em torno de 20%, em razão de uma estiagem acentuada no verão e de um inverno com poucas horas de frio. No ano passado, segundo dados do governo (IBGE e Secex), o Brasil colheu 843 mil toneladas e exportou 99 mil. Em 2004, foram colhidas 973 mil toneladas, e 153 mil foram exportadas.