Título: Risco-Brasil em queda melhora as condições de financiamento externo
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 05/01/2006, Finanças, p. C2

A queda no risco-Brasil ajuda governo, empresas e bancos brasileiros a realizar captações externas a um custo mais baixo e por um prazo mais longo. A melhoria no principal indicador da percepção do investidor externo sobre o Brasil permite a ampliação no movimento de troca de dívida mais cara por mais barata. "Esse tipo de operação, como a que está sendo realizada pela Vale neste momento, vai ser um esporte nacional em 2006 para empresas do setor privado", acredita Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco. Solange Srour, economista-chefe da Mellon Global Investments, concorda. "Governo brasileiro e empresas passam a ter melhores condições de financiamento externo." Ontem, o risco-Brasil foi a um novo recorde de baixa, a 291 pontos básicos, o que o colocou apenas 23 pontos acima do risco dos principais mercados emergentes auferido pelo EMBI+ do JP Morgan, excluídos o risco-Brasil, o risco-Argentina e os países que são grau de investimento ("investment grade" - têm o selo de investimento não-especulativo, como por exemplo o México e a Rússia). No fechamento, o risco-Brasil foi a 293 pontos básicos, queda de 2,33%. Segundo estudo do Departamento Econômico do Bradesco, essa diferença não era tão pequena desde 31 de dezembro de 2004. No dia 2 de junho de 2000, por exemplo, o risco-Brasil estava 353 pontos abaixo da média, enquanto no dia 29 de julho de 2002 foi a 1.442 pontos acima da média. A queda no risco-Brasil ajuda a valorizar o câmbio, como reconhece o Banco Central em suas equações para o modelo de metas de inflação. A correlação é positiva e direta - o investidor externo melhora sua percepção de risco sobre o país e vem investir em derivativos, renda fixa e renda variável brasileiros. "O câmbio apreciado ajuda a reduzir as expectativas de inflação e exerce pressão baixista sobre os juros", afirma Solange Srour. A queda no risco-Brasil deve ajudar a melhorar a nota de crédito do país, pois as agências de rating tendem a correr atrás do mercado, segundo o estrategista do JP Morgan, Drausio Giacomelli, já notou em antigo estudo. Para ele, o mercado quase sempre antecipa as mudanças de rating. Segundo Giacomelli, na maior parte dos casos a alta na nota de um país tem impacto máximo de 10 pontos básicos no prêmio de risco desse país. Quando há uma surpresa, o impacto é de 30 pontos básicos. O fato de as agências correrem atrás do mercado não é demérito para elas, avalia. Afinal, os fundamentos de uma economia afetam os prêmios de risco-país, mas os prêmios de risco-país também interferem nos fundamentos, lembra. Para Octavio de Barros, o risco-Brasil tem tudo para cair abaixo da média neste ano. "As condições internacionais de liquidez devem se manter favoráveis em 2006", diz ele. O comércio internacional deve continuar crescendo neste ano, acredita Solange Srour. "O Brasil veio surfando na onda do crescimento econômico mundial e, com exportações bombando, conseguiu melhorar seus indicadores de solvência externa, assim como outros países emergentes", afirma. Ela lembra que o Brasil continua convivendo com uma elevada relação entre a dívida total do setor público e o Produto Interno Bruto. "Essa relação dívida/PIB se manteve estável, sem melhora em 2005."