Título: BNDES converte dívida para dólar
Autor: Vera Saavedra Durão e Catherine Vieira
Fonte: Valor Econômico, 05/01/2006, Finanças, p. C8

Swap de Moedas Na maior operação feita no mercado interno, banco troca 204 milhões de euros

O BNDES fechou sua primeira operação de swap (troca) de dívida em moeda estrangeira feita no mercado doméstico. O banco de fomento converteu em dólares uma dívida de 204,5 milhões de euros, numa operação dividida em quatro lotes iguais e provavelmente a maior já feita em swap de moedas no mercado local. Os vencedores do leilão foram o ABN AMRO Real, o Citibank e o Itaú, que arrematou dois lotes. A média da taxa de juro em dólar foi de 10,9%, contra uma taxa em euros média de 9%. A operação foi finalizada no dia 19 de dezembro em mercado de balcão e registrada na Cetip. Com a transação, o estoque de dívida em moeda estrangeira do BNDES, de US$ 6,6 bilhões, ficou 88,1% dolarizado, dando segmento a uma estratégia de redução de riscos na cesta de moedas, que a instituição já vinha adotando há alguns anos. Esse processo, no entanto, era feito com operações de proteção ("hedge") contratadas no exterior e foi interrompido no fim de 2004, em função de nova legislação que eleva o risco tributário da operação. Com as novas regras, não é mais possível compensar perdas em operações com derivativos feitas em mercado de balcão no exterior. Em função disso, o BNDES buscou durante quase um ano um novo formato, que agora poderá ser usado em novos swaps, seja para minimizar o risco de moedas ou de taxas de juro externas, como já estuda o banco. Com isso, os tomadores da instituição que têm seus empréstimos corrigidos pelos encargos da cesta de moedas - em destaque as grandes empresas, exportadoras e multinacionais - poderão gerir seus riscos com maior facilidade. Segundo a superintendente da área financeira do BNDES, Maria Isabel Aboim, o banco utilizou o Contrato Global de Derivativos, que é uma espécie de correspondente local do ISDA (International Swap Derivative Association), e funciona como um guarda-chuva, no qual foi possível estruturar detalhes da complexa operação, de acordo com as necessidades do banco. Na avaliação da executiva e do diretor do BNDES, Carlos Kawall, a operação é importante por marcar a entrada do banco no mercado doméstico de derivativos. "A migração para esse mercado é importante para o desenvolvimento do mesmo, dado o volume elevado e o peso institucional do BNDES", acredita Kawall. Segundo o superintendente executivo do ABN AMRO Real, Fábio Figueiredo, a operação do BNDES provavelmente é a maior já realizada em hedge de moeda no mercado doméstico. "Depois da nova regulamentação, que acentuou o risco tributário para operações no mercado externo, começou a haver demanda para transações no mercado interno, mas a maioria foi de swap de taxa de juro. Isso ocorreu em função da discussão sobre a trajetória de alta dos juros dos EUA", explicou. O instrumento usado para a operação do BNDES e que tem sido usado por diversas empresas é o chamado Swap de Fluxo de Caixa, um produto lançado em junho de 2004 pela Cetip. Segundo o superintendente Antônio Carlos Teixeira, a Cetip já registra um estoque de R$ 6,6 bilhões. O BNDES usou ainda o módulo de cálculo automático, por meio do qual a própria Cetip efetua o cálculo final da operação, e não as partes envolvidas, como costuma ocorrer. Após essa operação, resta no estoque da dívida do BNDES apenas resíduos em euros (0,4%) e em ienes (11%). A moeda japonesa é relevante para futuras operações de hedge do banco, mas esses são empréstimos de longo prazo, o que reduz a liquidez da operação de swap para os bancos. No entanto, a idéia está em análise na instituição, junto com as operações de swap de juros. A operação de swap de euros não terá impacto no curto prazo, na avaliação da superintendente financeira, sobre a taxa atual de 6,5% dos financiamentos em cesta de moedas repassada aos tomadores mais desvalorização cambial e spread. Este percentual reflete o custo do passivo geral em moeda estrangeira, incluindo operação de mercado e de organismos institucionais. Como o banco não toma recursos no mercado desde 2001, a maior parte da dívida externa da instituição que compõe a cesta de moedas é hoje devida a organismos internacionais, que cobram juros mais baratos. Por essa razão, esta é a menor taxa de correção dos empréstimos dos clientes em cesta desde 1997, quando o BNDES iniciou as operações de swap de dívida. Naquele ano, a taxa de correção da cesta era de 7,7%. Nestes nove anos, a maior taxa aconteceu em 2000 (9,3%), com trajetória cadente desde então. A taxa que corrige a cesta é repactuada trimestralmente. Segundo a análise de Isabel, seu viés atual é de baixa, levando em conta a conjuntura internacional de juros mais baixos e a queda do risco-Brasil.