Título: Crédito e serviços balizam bom ano para ações de bancos
Autor: Adriana Cotias
Fonte: Valor Econômico, 05/01/2006, EU &, p. D2

Balanço Setorial Queda dos juros será compensada com aumento dos volumes em segmentos de maior margem

O crédito e as receitas com prestação de serviços serão os principais vetores de crescimento de resultados para o setor financeiro em 2006 e devem manter a atratividade das ações do segmento listadas na bolsa, avaliam os analistas. Num ambiente de queda das taxas de juros, expansão da atividade econômica e redução do risco-Brasil, a leitura é de que os papéis têm bom potencial de valorização pela frente, mesmo após o rali verificado ao longo do ano passado. Com estimativas de crescimento de 25% a 30% para os ativos de crédito do sistema financeiro nacional, o movimento de redução da Selic, que em tese poderia apertar as margens do setor, é o fator que menos preocupa. "As instituições vêm privilegiando as carteiras de pessoas físicas e de pequenas e médias empresas, segmentos em que os 'spreads' continuam bastante elevados, preservando as margens e até aumentando o retorno (sobre o patrimônio)", aponta o analista da Concórdia, Eduardo Kondo, que tem preferência pelas ações do Itaú e do Unibanco. No primeiro caso, justifica ele, pelo rápido posicionamento na atividade de intermediação financeira tradicional, com 162% dos depósitos totais aplicados em operações de crédito, em comparação a um passado recente mais posicionado em títulos públicos. Para o Unibanco, a avaliação é de que a reestruturação promovida por Pedro Moreira Salles na presidência ainda não foi completamente incorporada ao preço das units (recibos representativos de uma ação do banco e uma da holding). Em 2005, em meio a duas ofertas públicas com a venda da participação de bancos estrangeiros no capital da instituição, os papéis subiram 79,1% na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). As parcerias com redes de varejo também tendem a turbinar as operações de empréstimo dos bancos, destaca a analista da Coinvalores, Elaine Rabelo. "A oportunidade de geração de receitas está não só no financiamento ao consumo como também na oferta outros produtos, de cartões a títulos de capitalização e seguros", exemplifica. "Pelo dos custos, as instituições têm feito um grande esforço, o que resultou na a forte lucratividade observada em 2005." Ela tem recomendação de compra para todo o setor, mas vislumbra maior potencial em Bradesco, Itaú e Unibanco. O preço projetado para Bradesco já foi superado e está em revisão, enquanto para as ações preferenciais (PN, sem voto) do Itaú a estimativa é de R$ 70 por ação até dezembro, o que embute possibilidade de alta de 17,4%, considerando-se o fechamento de ontem, a R$ 59,60. Para as units do Unibanco, o valor de R$ 33 quase foi atingido e deve ser reavaliado. Vale lembrar que o cálculo de preço justo para determinada ação leva em conta as projeções de resultados para a empresa avaliada, mas depende das condições de procura pelo papel e de mercado para ser atingido. Para Daniel Doll Lemos, da Socopa, Banco do Brasil (BB) e Unibanco são as que têm condições de captar melhores preços na bolsa ao longo de 2006, pelo fato de as respectivas ações ainda apresentarem desconto em relação às demais do setor - o preço projetado é de R$ 59,60 e R$ 37,20, respectivamente. Ele espera que a redução do risco-país mantenha a atratividade dos papéis bancários aos olhos do investidor estrangeiro. E no caso específico do BB, a possibilidade de uma oferta pública de ações pertencentes à Previ e ao BNDES só contribuiria para elevar a liquidez dos papéis. Com tal perspectiva, também citada num relatório de início de cobertura da Merrill Lynch, com recomendação de compra (e preço alvo a R$ 60), as ações ordinárias (com direito a voto) do BB subiram ontem 13,6% na bolsa, a R$ 47,70. A analista do Banif Investmet Bank, Catarina Pedrosa, menciona como fator de risco para o setor um eventual aumento da inadimplência, mas que não há no horizonte nenhum indício de que a parcela de créditos de liquidação duvidosa venha aumentando de forma preocupante. "Os bancos fazem excessos monstruosos de provisões e estão preparados para revertê-los a qualquer sinal de deterioração da carteira", sustenta. Um outro analista, que prefere não ser identificado, acrescenta que a fatia de receitas com prestação de serviços ganhará relevância nos resultados dos grandes conglomerados. A expansão nas áreas de cartões de crédito, seguros e administração de recursos deve elevar a arrecadação com tarifas e arrematar um 2006 promissor.