Título: Exportações brasileiras não avançam em setores dinâmicos
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 13/12/2005, Brasil, p. A3

Comércio exterior China impõe necessidade de pensar o Brasil, diz estudo

As exportações brasileiras não conseguiram ganhar espaço nos setores mais dinâmicos do comércio mundial na última década e a participação do país ficou estagnada em 1,4%. Estudo do economista Fernando Puga, do BNDES, revela que o país avançou em dez de 23 setores do comércio internacional entre 1993 e 2003, mas só dois foram considerados de forte dinamismo. O estudo foi feito com base nos dados da UNComtrade. O Brasil ficou para trás em segmentos cujas trocas mundiais cresceram velozmente, como químico, borrachas e plásticos, máquinas de escritório e informática, instrumentos médicos e ópticos. As vendas de máquinas para escritório e informática, por exemplo, aumentaram 9% no período, enquanto as exportações brasileiras cresceram 0,9%. Entre os setores de forte dinamismo no comércio mundial, o Brasil só obteve bom desempenho em material eletrônico e de comunicações (alta de 14,1% nas exportações do país ante 10,3% do comércio mundial) e petróleo e álcool (alta de 9,7% contra 8,7%). Em dez anos, o comércio dos produtos de maior sofisticação tecnológica cresceu, beneficiado pelo aumento da renda mundial per capita e pela expansão das trocas entre filiais de empresas transnacionais. O Brasil se destacou em agropecuária entre 1993 e 2003, com alta das exportações de 9,7%, mais que o dobro dos 4,5% das vendas mundiais. Também em alimentos e bebidas, as vendas do país cresceram 7,4%, enquanto as exportações mundiais subiram 5,2% - percentual inferior aos 7,2% da indústria da transformação. O desempenho do país chama a atenção em aviões, com alta de 12,9% das exportações. As vendas mundiais desse setor cresceram apenas 5,5%. O estudo analisa a dinâmica do comércio internacional, com ênfase nos impactos do crescimento da China e seus efeitos da economia brasileira. "A China está impondo uma necessidade de pensar o Brasil", diz o economista. O objetivo do trabalho, intitulado "A inserção do Brasil no comércio mundial: o efeito China e potenciais de especialização das exportações", é buscar opções de inserção do Brasil no comércio mundial. A participação da China nas exportações mundiais saltou de 3,2% em 1993 para 8,4% em 2004. O país se tornou um robusto importador e recebeu no ano passado 7,4% das compras externas mundiais, ante 3,4% em 1993. A América Latina ganhou algum espaço, com sua fatia nas exportações mundiais saindo de 4,6% em 1993 para 6,5% em 2004. Brasil e Argentina não contribuíram para esse desempenho. O destaque ficou para o México, devido ao Nafta. Em 2004, o país representou 2,7% das exportações, ante 1,8% em 1993. Estados Unidos e Japão perderam parcelas expressivas de participação nas exportações globais. Os americanos viram sua fatia encolher de 16,4% em 1993 para 11,6% em 2004. A participação dos japoneses cedeu de 12,7% para 8% em 11 anos. A União Européia permaneceu estagnada com 19,5%. Os Estados Unidos se mantêm como o maior importador mundial, respondendo por 20,1% do total. A China está crescendo de forma mais expressiva nos setores mais dinâmicos como eletrônico ou material de escritório ou informática. Puga destaca que o país entra nesse novos segmentos sem abandonar os antigos. A China detém 2/3 do mercado americano de calçados. "Eles conseguem por conta do tamanho do seu território e de sua população", avalia. Uma análise setorial aponta a especialização mundial dos asiáticos no complexo eletrônico. A participação da China saltou de 2,3% em 1993 para 13,4% em 2003 e o Leste Asiático domina hoje mais de 60% do mercado mundial. A participação dos EUA cedeu de 23% para 12,9% em 10 anos, enquanto a fatia dos japoneses caiu de 13% para 10,8%. A participação do Brasil é insignificante: 0,2%. Segundo Puga, os dados evidenciam que é difícil para qualquer país, incluindo o Brasil, conseguir um espaço nesse setor. Os europeus até melhoraram seu desempenho nos setores de máquinas e equipamentos, veículos e produtos químicos. Mas a ascensão rápida dos chineses já preocupa. Em químicos, a participação da União Européia subiu de 30,1% em 1993 para 32,3% em 2004, enquanto a dos EUA cedeu de 21,5% para 17,2%. A China subiu de 2,2% para 3,8%, a do Brasil caiu de 1,1% para 0,8%. Em máquinas e equipamentos, a performance da União Européia também é destaque com aumento de 29% para 33,8% de sua parcela no mercado mundial. Os EUA caíram de 18,4% para 16,2%. O Brasil está estagnado em 1,3%. A China, que também detinha 1,3% em 1993, subiu para 6,3%. Em automóveis, o Leste Asiático mantém a liderança com 29,5% das exportações totais, mas é seguido de perto pela UE, cuja participação subiu de 19,1% em 2003 para 24,8% em 2004. A parcela do Japão caiu de 27,5% para 21,4%. Os americanos também perderam espaço, com baixa de 21% para 24,7%. Embora em ritmo mais lento que o usual, a China avança com sua participação subindo de 0,4% para 1,8%. Puga avalia que existe um potencial de especialização para o Brasil em metal-mecânica. O economista destaca a possibilidade do aumento das exportações de aço semi-acabados, laminados quentes, compressores, tratores, máquinas agrícolas e até veículos. A China também avança nessas áreas, mas pelo menos o Brasil conta com a vantagem competitiva de ser grande produtor de minério de ferro.