Título: Silvas, pimenta e instabilidade
Autor: Nascimento, Solano
Fonte: Correio Braziliense, 10/05/2010, Brasil, p. 6

O Sri Lanka é um país tropical em forma de lágrima, quase encostado no extremo sul da Índia. De motoristas de táxis a escritores, muitos lá têm o sobrenome Silva, herança dos portugueses que chegaram em 1505, poucos anos depois de desembarcarem no Brasil, e saíram no século seguinte, sendo substituídos por holandeses e ingleses. Só em 1948 o pequeno país ¿ a área é pouco maior que a da Paraíba, mas a população equivale à de Minas Gerais ¿ tornou-se independente e trocou o nome de Ceilão por Sri Lanka. Foi quando começaram a aparecer os problemas étnicos entre os povos tâmil e cingalês, ambos com línguas próprias e originários de partes distintas da Índia. Acusados de terem sido favorecidos pelos ingleses, tâmeis passaram a ser preteridos em empregos e vagas em instituições de ensino. Cingaleses afirmavam estar revertendo injustiças. O movimento pela criação de um estado autônomo para os tâmeis começou nos anos 1970, mas a violência eclodiu na década seguinte. Em 2002, o governo de George Bush classificou o movimento como organização terrorista. A guerrilha foi declarada extinta pelas Forças Armadas em maio do ano passado, mas isso não significa que o Sri Lanka seja um país estável. Ruas de Colombo, a capital, têm barricadas e há áreas do Norte onde só se entra com autorização das Forças Armadas. Cerca de 80 mil pessoas ainda vivem nos campos de refugiados. O presidente Mahinda Rajapaska foi reeleito em janeiro e, logo em seguida, prendeu seu opositor e dissolveu o Parlamento. O povo que assiste a isso tudo é pobre, gentil e adora comida apimentada. (SN)