Título: De Lamy para Bové: "Promete que não vai quebrar nada?"
Autor: Assis Moreira e Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 13/12/2005, Brasil, p. A5

Um interlocutor inesperado interrompeu ontem, por telefone, uma entrevista que o diretor-geral da Organização Mundial de Comércio (OMC), Pascal Lamy, concedia a uma rádio francesa. Do outro lado da linha, José Bové, conhecido manifestante antiglobalização, pedia ajuda a Lamy, dizendo-se barrado pelos oficiais de imigração em Hong Kong. Processado por depredar uma loja do McDonald´s e por invadir e destruir plantas em lavoura de produtos transgênicos da Monsanto, Bové é considerado "persona non grata" pelas autoridades da ilha, que se esforçam para evitar os tumultos que marcaram as últimas reuniões de órgãos multilaterais no mundo. Também foram barrados outros ativistas, entre eles agricultores coreanos, conhecidos pelo radicalismo - três deles já se suicidaram durante manifestações contra a liberalização do comércio. Ameaçado de voltar para a França, Bové não teve escrúpulos em recorrer ao diretor da OMC, apontada como grande vilã pelas ONGs, que prometem dois grandes protestos até o fim da semana. Lamy, francês e ex-comissário europeu do comércio, alvo freqüente dos protestos de Bové, não perdeu a oportunidade de propagandear a face benevolente da organização que dirige: comprometeu-se pessoalmente pelo comportamento do compatriota, ao pedir a intervenção do secretário de Comércio de Hong Kong, John Tsang. "Você me promete que não vai quebrar nada?", cobrou Lamy ao manifestante-símbolo do inconformismo dos franceses com a queda do protecionismo agrícola. Bové prometeu e se juntou aos manifestantes reunidos em Hong Kong. (AM e SL)