Título: Mudança pode tirar TAP da operação
Autor: Paulo de Tarso Lyra eVanessa Adachi
Fonte: Valor Econômico, 13/12/2005, Brasil, p. A6
A possível mudança do controle da Varig, da Fundação Ruben Berta (FRB) para a Docas Investimentos, de Nelson Tanure, pegou de surpresa os outros dois investidores interessados na companhia: a portuguesa TAP e o fundo de investimentos americano MatlinPatterson. Ambos participam do processo de compra das subsidiárias VarigLog (logística) e VEM (manutenção). Segundo o Valor apurou, a FRB teria ignorado recomendações do banco UBS, contratado para dar consultoria financeira para a Varig na venda das duas empresas. Segundo o relatório do UBS, Tanure não teria atendido a sete das oito exigências da aérea para assumir o controle das subsidiárias. A informação de fontes que acompanham o processo era de que mesmo assim a FRB teria optado pela oferta de Tanure, de US$ 139 milhões. Ao que tudo indica, essa proposta já afasta o fundo americano MatlinPatterson, que ofereceu US$ 77 milhões pelas duas empresas. O diretor financeiro da TAP, Michael Conolly, informou ao Valor que só vai divulgar a decisão da companhia portuguesa no dia 19. Fontes ligadas à aérea portuguesa, no entanto, informaram que a empresa deixaria o negócio, caso Tanure realmente assumisse o controle da empresa-mãe. Tanure atualmente arrenda os jornais "Gazeta Mercantil" e "Jornal do Brasil". A TAP já obteve financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para comprar as duas empresas por US$ 62 milhões. Caso a TAP desista da operação de compra das subsidiárias, Tanure teria que pagar à vista para a Aero LB - que tem como sócios a TAP e os brasileiros Álvaro Gonçalves e Alberto Camões - US$ 74,5 milhões, dos quais US$ 62 milhões relativos ao adiantamento para aquisição das duas subsidiárias, e US$ 12,5 milhões referentes a uma multa de 20% sobre o valor total da operação. O valor da multa, porém, está sendo questionado pelo Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro. A opção da FRB por Tanure foi decidida no fim de semana. A assinatura do contrato de compra, segundo o Valor apurou, ocorreu às pressas na madrugada de domingo para segunda-feira. Ontem pela manhã Nelson Tanure apresentou sua proposta ao juiz da 8ª Vara de Falências, José Roberto Ayoub. À tarde, ele estava em Brasília, onde se encontrou com o vice-presidente da República e ministro da Defesa, José Alencar. Nessa reunião, Tanure tentou convencer Alencar a quebrar qualquer resistência do BNDES quanto a concessão de um financiamento para a compra da aérea. Mas o banco já havia sinalizado, indiretamente, que Tanure não teria crédito para se habilitar a qualquer tipo de financiamento na instituição. A mudança no comando da empresa que controla a Varig não significa que os problemas da companhia aérea serão resolvidos. A Varig "mãe" permanece em processo de recuperação judicial e ainda pode ter sua falência decretada na próxima segunda-feira, dia 19 de dezembro, quando vence o prazo de 180 dias previstos na nova Lei de Falências para a empresa apresentar um plano de recuperação que tenha a aprovação dos credores. Tudo indica que a assembléia - na qual os maiores credores da Varig teriam que aprovar um plano de recuperação - marcada para hoje será adiada para o dia 19. O motivo é a falta de quórum. A venda da Varig "mãe" para Tanure acabará inviabilizando o plano de recuperação que previa a troca de parte das dívidas por participações acionárias em quatro fundos de investimentos e participações (FIP), a serem constituídos pela FRB. A base desse plano era a transferência das ações de controle para os credores, o que não é mais possível com a entrada de Tanure. A avaliação de um dos credores da Varig é que a situação piorou, já que Tanure não teria apoio de dois importantes instituições do governo: o BNDES e o Banco do Brasil. E caso os credores rejeitem o plano que Tanure apresentar, a Justiça teria que decretar a falência da Varig. Ainda segundo esse credor, ao fechar com Tanure, a FRB pode ter oferecido uma brecha para as empresas de leasing pedirem a devolução dos aviões em Nova York. A próxima audiência da Varig com o juiz Robert Drain, pelo Tribunal de Falências do Distrito Sul de Nova York, está marcada para 21 de dezembro.