Título: Empresário costuma fazer negócios pouco ortodoxos
Autor: Paulo de Tarso Lyra eVanessa Adachi
Fonte: Valor Econômico, 13/12/2005, Brasil, p. A6
A oferta de compra de uma participação na Fundação Ruben Berta é uma operação típica de Nelson Tanure. Aos 54 anos, o baiano, que ficou conhecido por seus investimentos no setor de estaleiros, tem se dedicado nos últimos cinco anos a adquirir ativos problemáticos: empresas altamente endividadas, mas que têm um nome conhecido. Os intangíveis, diz, são um grande negócio. Outra de suas marcas registradas são os planos heterodoxos de salvamento de algumas dessas empresas. Em geral, ele não compra diretamente as companhias, mas faz acordos de pagamento de royalties pelo uso da marca ou de prestação de serviços, com o objetivo de evitar a sucessão. Foi esse o desenho, por exemplo, das operações realizadas com o "Jornal do Brasil", no fim de 2000, e com a "Gazeta Mercantil", em 2003. No JB, Tanure fechou acordo com a JB Online para uso das marcas e acesso ao acervo. Posteriormente, o jornal passou a ser produzido por essa empresa. Na Gazeta, a Editora JB, de propriedade de Tanure, fechou acordo com as empresas controladas por Luiz Fernando Levy de licenciamento da marca por 60 anos. Tanure paga royalties à empresa Gazeta Mercantil. Com os recursos, segundo o desenho do negócio, a empresa pode abater sua dívida, inclusive com a Receita Federal e o INSS. Na Gazeta, o desenho não tem evitado a sucessão. Segundo o escritório Muller, Durães e Assuf Advogados, que representa ex-funcionários e credores da Gazeta, Tanure perdeu quase todas as ações já julgadas na 26ª Vara do Trabalho de São Paulo. De cerca de 300 processos, aproximadamente 30 já foram julgados. O passivo trabalhista é calculado pelo escritório em R$ 90 milhões, mas os advogados de Tanure estimavam que não passava de R$ 60 milhões. A associação dos ex-funcionários conseguiu o arresto da marca na Justiça. As investidas de Tanure em mídia e entretenimento foram além de JB e Gazeta. Ele também edita a revista Forbes (apesar da disputa jurídica sobre o uso da marca) e foi sócio de Ricardo Amaral na Companhia Brasileira de Mídia, em negócios como o ATL Hall e a academia Estação do Corpo, no Rio. Nos últimos cinco anos, também tentou comprar a Cemar, distribuidora de energia do Maranhão e a operadora de telefonia Intelig, além de ter assessorado a canadense TIW no conflito do Opportunity com Telemig Celular e Amazônia Celular. Tanure e Daniel Dantas, do Opportunity, eram inimigos, embora comente-se que eles teriam feito as pazes. Tanure obteve os recursos para as investidas ao vencer, em 2000, uma disputa judicial com o Interatlântico (joint venture entre o português Espírito Santo, o francês Crédit Agricole e o brasileiro Monteiro Aranha), que tinha comprado o Banco Boavista da família Guinle de Paula Machado. Ele recebeu cerca de R$ 120 milhões, entre dinheiro, obras de arte e imóveis. No começo da carreira, na Bahia, Tanure administrou a Cinassa, que acabou falindo. Na década de 80, já amigo de políticos como Delfim Netto, Gilberto Mestrinho e Jáder Barbalho, fez seus primeiros investimentos. Adquiriu a Sequip, fabricante de equipamentos para prospecção de petróleo, os estaleiros Emaq e Verolme e a empresa de engenharia Sade. Todas passavam por dificuldades financeiras. No início da década de 90, uma operação da Sade deixou marcas profundas em sua imagem. Amigo da ex-ministra Zélia Cardoso de Mello, ele pediu sua ajuda para uma operação de captação de recursos. Fundos de pensão estatais se abarrotaram de papéis da empresa, amargaram um grande prejuízo e o caso foi parar nos jornais. Após a operação, Tanure submergiu e reestruturou suas empresas. Alugou ou arrendou estaleiros e vendeu a Sade-Vigesa e a Mafersa para a Inepar. Voltou com o processo contra o Interatlântico e, desde então, tem se preocupado com a imagem. Foi vice-presidente da Orquestra Sinfônica Brasileira e adquiriu da viúva Iluska a coleção de música clássica que pertencia a Mário Henrique Simonsen.