Título: Nelson Tanure fecha acordo para assumir a Varig
Autor: Paulo de Tarso Lyra eVanessa Adachi
Fonte: Valor Econômico, 13/12/2005, Brasil, p. A6

Aviação Controlador da Docas Investimentos prometeu US$ 112 milhões para ficar com a FRB-Par

Em mais uma reviravolta surpreendente no caso Varig, a Docas Investimentos, de propriedade de Nelson Tanure, fechou um acordo para assumir o controle da companhia aérea. Enquanto outros interessados, como a TAP, se debatiam pelas subsidiárias da Varig, Tanure "entrou por cima". Prometeu desembolsar US$ 112 milhões para assumir o controle da FRB-Par, a empresa de participações da Fundação Ruben Berta. Desse total, US$ 100 milhões seriam dados pela aquisição de 25% das ações com direito a voto da FRB-Par. Os outros US$ 12 milhões seriam dados em pagamento pelo usufruto de outros 42% das ações ordinárias pelo prazo de 10 anos. Com isso, Tanure deteria 67% das ações votantes da FRB-Par pela próxima década. Isso lhe daria o controle de todas as outras empresas do grupo, como a Nordeste Linhas Aéreas, a Rio Sul, a Pluna (empresa aérea uruguaia), além dos hotéis Tropical e a Sata. Além disso, Tanure se comprometeu a encontrar quem desconte US$ 40 milhões em recebíveis da Varig, segundo o Valor apurou. Paulo Marinho, diretor da Docas, e Cesar Curi, da Fundação Ruben Berta: acordo terá prazo de dez anos Nos últimos meses, Tanure contou com a colaboração de Carlos Luiz Martins, ex-presidente da Varig. Martins colaborou na confecção da proposta e especula-se que ele poderia voltar à companhia agora. Ele foi demitido quando a fundação resolveu contratar o grupo liderado por David Zylbersztajn no primeiro semestre. A Docas Investimentos apresentou ainda, na última sexta-feira, outra proposta para a Varig: mais US$ 139 milhões para adquirir a VarigLog e a VEM (Varig Engenharia e Manutenção). Venceu na sexta o prazo dado pela Justiça do Rio, onde corre o processo de recuperação judicial da aérea, para que outros interessados apresentassem lances maiores do que os US$ 62 milhões pagos pelo grupo de investidores liderados pela estatal portuguesa TAP para ficar com as duas subsidiárias. A proposta de Tanure foi superior à da TAP, mas inferior à do fundo MatlinPatterson, segundo uma fonte que teve acesso aos valores oferecidos. O negócio entre Tanure e a Fundação Ruben Berta foi fechado na madrugada de domingo para segunda. Até a metade da semana passada, os curadores da fundação e os executivos da Varig acreditavam que um misterioso investidor argentino adquiriria a Varig. Quando o depósito prometido a título de "sinal" não veio, foi a senha para que Tanure voltasse à cena. Ele já havia feito tentativas de negociar o controle da Varig, sem sucesso, e continuava a insistir. Na tarde de ontem, os representantes de Docas e da fundação comunicaram o fechamento do negócio ao vice-presidente da República, José Alencar, e ao presidente da Infraero, Carlos Wilson. O diretor da Docas Investimentos, Paulo Marinho, declarou que o plano de reestruturação da Varig será apresentado na assembléia de credores marcada para a próxima segunda, dia 19 de dezembro. As dívidas da empresa chegam a R$ 7 bilhões. De acordo com Marinho, mais da metade deste valor - R$ 4 bilhões - são débitos fiscais. Tanure pretende tentar fechar o tão falado "encontro de contas" com o governo usando o crédito que a empresa tem a receber da União por conta do processo de compensação tarifária que tramita no Superior Tribunal de Justiça. O diretor da Docas disse que o grupo não quer dinheiro do governo federal e que todos os recursos utilizados na compra da Varig e também da VEM e da VarigLog virão do caixa da Docas. "Se a TAP cobrir a nossa proposta, pode ficar com as duas subsidiárias. Caso contrário, vamos questionar os US$ 12 milhões que eles pleiteiam se perderem o negócio." Por enquanto, a Docas só desembolsou a primeira de dez parcelas para assumir o controle da FRB-Par. Foram depositados US$ 11,2 milhões. O acerto é que serão parcelas anuais. Pelo acordo, segundo o Valor apurou, Tanure se comprometeu a garantir participação acionária de no mínimo 20% para a FRB em todas as empresas do grupo ao final do prazo de dez anos. Ou seja, ao renegociar dívidas com credores durante o usufruto do controle, Tanure se comprometeu a não diluir a fundação além desse percentual. O processo de reestruturação da Varig, segundo Marinho, seria completado em dez anos. O negócio ainda tem que ser aprovado pelo Departamento de Aviação Civil (DAC) e pelos credores da Varig. "Não há possibilidade de credores de boa-fé não aprovarem a nossa proposta. Ela prevê a reestruturação da Varig. A outra alternativa é a falência." O vice-presidente da República José Alencar recebeu a proposta do grupo Docas com mais entusiasmo do que os credores federais (Infraero, Banco do Brasil e BR Distribuidora). "Mais do que nunca, é hora de sermos cautelosos", declarou um credor federal da Varig. Credores privados também foram céticos ao comentar a operação. "Vamos ver o que Tanure tem a propor", disse um deles. Somente o presidente do fundo de pensão Aerus, Odilon Junqueira, comemorou o negócio. "Com um empresário de verdade, a Varig tem um enorme potencial." O presidente do conselho de curadores da Fundação Ruben Berta, Cesar Curi, disse que a compra da Varig pela Docas é uma "vitória do povo brasileiro". (Colaborou Daniel Rittner, de Brasília)