Título: CPI dos Bingos vota hoje convocação de Palocci
Autor: Caio Junqueira e César Felício
Fonte: Valor Econômico, 13/12/2005, Política, p. A8

A oposição se prepara para colocar em votação na tarde de hoje o requerimento de convocação do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para depor à CPI dos Bingos. Com a garantia dada ontem de que o PDT vai votar com a oposição - o senador Augusto Botelho (PDT-RR) terá de votar a favor ou será substituído da comissão pelo líder Osmar Dias (PDT-PR) -, foram então contabilizados oito votos a favor de chamar Palocci para explicar as denúncias de corrupção na Prefeitura de Ribeirão Preto durante sua administração. Contra ficaram sete parlamentares. Na quinta-feira, a CPI deu uma última carta de crédito ao ministro. Concedeu prazo até hoje para ele se apresentar à comissão de forma espontânea, sem passar pelo desgaste da convocação. Sem sinal de vida de Palocci, a oposição garante que colocará o requerimento em votação hoje. "O presidente da CPI ficou mal na foto, já que a comissão lhe deu a incumbência de trazer o ministro de forma negociada. Com a resistência de Palocci, temos de proteger o presidente e lhe devolver a autoridade", disse o líder do PFL no Senado, José Agripino (RN), ao citar o senador Efraim Morais (PFL-PB), presidente da CPI. Agripino contabiliza oito votos contra sete dentro da CPI a favor da convocação. O senador passou o fim de semana no telefone, em conversas com os demais integrantes da comissão. No sábado, falou com Geraldo Mesquita (sem partido-AC) e ouviu promessa de voto pela convocação. "Quero uma saída negociada e trabalharei por ela. Mas se o requerimento for colocado em análise, vou votar a favor", revelou Mesquita ao Valor. O senador é o autor do pedido de convocação, mas PFL e PSDB não estavam certos sobre seu posicionamento até a conversa com Agripino. "Não vou votar contra um requerimento meu", disse Mesquita, por telefone, ao líder pefelista. Outro voto garantido pela oposição é o de Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), ausente na sessão de quinta-feira, quando a oposição percebeu a falta de apoio à convocação e concedeu mais um prazo ao ministro da Fazenda. A negociação mais complicada envolveu o PDT. Na quinta-feira, Augusto Botelho batera o pé: não votaria pela convocação. Disse ao senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) que não gostaria de afundar quem já está com a corda no pescoço. Agripino falou com o líder do PDT, Osmar Dias (PR), que também conversou com o senador Jefferson Péres (PDT-AM). "A bancada decidiu que votará a favor da convocação. Se o senador Augusto Botelho tiver alguma questão pessoal para não votar dessa forma, ele avisará o líder Osmar Dias, que o substituirá", diz Péres. "Espero que o senador Botelho obedeça essa determinação partidária", completa. O governo tentará ainda uma manobra final para sepultar a convocação de Palocci em 2005. O senador Tião Viana (PT-AC) conversará com pefelistas e tucanos para propor o envio, por parte do ministro, de uma carta oficial na qual se compromete a ir à CPI em janeiro. "Se a oposição achar que esse documento é suficiente para manter uma solução negociada, poderemos agir dessa forma", afirma Tião. O senador alega falta de datas para trazer o ministro ainda em 2005. A agenda de Palocci estaria lotada até o fim do ano. "Só a vinda do ministro à CPI irá demonstrar porque ele tem tanto medo de falar à comissão", desafiou Agripino. Palocci terá de explicar dois episódios à CPI. O primeiro, refere-se à sua administração à frente de Ribeirão Preto. O ministro deixou a prefeitura da cidade para assumir a pasta, em 2003. Há diversas denúncias de cobrança de propina na prefeitura. Palocci também terá de responder a perguntas sobre o suposto repasse de R$ 3 milhões de Cuba para a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O empresário Roberto Colnaghi, dono do avião que supostamente teria transportado o dinheiro para São Paulo, declarou à CPI dos Bingos que já havia emprestado a mesma aeronave para o ministro da Fazenda. Palocci voou três vezes, uma delas acompanhado do ex-presidente do PT José Genoino.