Título: Auditoria aponta "desvios" na Brasil Telecom
Autor: Daniel Rittner e Catherine Vieira
Fonte: Valor Econômico, 13/12/2005, Empresas &, p. B3

Telefonia Nova direção da operadora diz ter havido "irregularidades" em gastos com agências de publicidade

Auditoria interna feita pelo novo comando da Brasil Telecom revelou que o Opportunity teria desviado pelo menos R$ 361 milhões do caixa da empresa, em dez operações irregulares, durante a gestão do banqueiro carioca Daniel Dantas à frente da operadora. Funcionários pagos pela BrT que se reportavam diretamente a Dantas, decoração do escritório do Opportunity em São Paulo, gastos com aviões sem registro de uso pelos executivos da companhia e pagamento de serviços de publicidade sem contrato às agências do empresário Marcos Valério de Souza fazem parte da lista de supostas fraudes registradas pela auditoria - tudo isso sem conhecimento dos acionistas da empresa, acusam os novos diretores da operadora. Diante das evidências de irregularidades, que teriam ocorrido de 2002 a 2005, a BrT entregou ontem à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) uma representação com os resultados preliminares das investigações internas. Ações judiciais estão sendo abertas para cobrar de Dantas os prejuízos causados pelas operações. Para o vice-presidente financeiro e de relações com investidores da BrT, Charles Putz, houve utilização indevida de recursos da empresa para proveito de Dantas e do Opportunity, em detrimento dos acionistas. O banqueiro foi destituído em março da gestão dos fundos CVC, que reúnem o Citibank e fundos de pensão, controladores da operadora. Mas os executivos só deixaram a empresa em outubro. O Opportunity, por meio de nota, informou que "tomará as medidas judiciais cabíveis, inclusive criminais, contra o senhor Charles Putz pelas declarações levianas e sem qualquer fundamento prestadas ontem". O Opportunity afirma que "não parece coincidência que esse rol de acusações fictícias venha a público justamente às vésperas de decisões judiciais importantes que envolvem, em última instância o próprio controle da Brasil Telecom". O grupo lembrou ainda que "a Brasil Telecom é considerada uma das companhias mais bem administradas do país nos últimos anos e que, no ano passado, teve classificação de risco pela Standard & Poor's melhor que a do próprio país". Embora seja uma das acusações mais pesadas de corrupção empresarial já feitas na história do capitalismo brasileiro, Putz esforçou-se em rejeitar comparações com os casos americanos da Enron e da WorldCom. "Não é uma comparação adequada", rejeitou o executivo. "As empresas americanas estavam com suas finanças fragilizadas e tiveram balanços maquiados. No nosso caso, o valor é elevado, mas não compromete as contas da companhia", agregou Putz, comparando o valor supostamente desviado com a receita anual da BrT, de cerca de R$ 10 bilhões. A lista de irregularidades apontadas pela auditoria inclui um pagamento considerado "suspeito" de R$ 4,3 milhões às agências de publicidade do empresário Marcos Valério, acusado de ter operado o "mensalão". Em 2003, a DNA prestou serviços sem contrato no valor de R$ 825 mil para a BrT. Em 2004, a SMP&B recebeu mais R$ 3,5 milhões por trabalhos esporádicos, também sem contrato, considerados "supervalorizados" pelo departamento de marketing. O ponto relevante é que esses serviços eram aprovados e pagos com ordem direta da antiga presidência ou da diretoria financeira da empresa, sem passar pelos executivos que comandavam a área de marketing, segundo a auditoria. Em 2005, a DNA e a SMP&B foram novamente contratadas por determinação da presidência. O negócio somava R$ 25 milhões para cada uma das agências. Em junho, a BrT suspendeu os contratos após o surgimento das denúncias sobre o esquema operado por Valério. A auditoria também aponta como fraudulento um empréstimo de US$ 43 milhões feito pela BrT à Telecom Capital Fund, fundo criado para a aquisição de ações da Telemig Celular. A operação foi feita com remuneração da taxa Libor, mais 1,5% ao ano - índice abaixo do mercado. O TCF aplicou esses recursos em notas promissórias da Highlake, controlada pelo Opportunity. As notas incluíam uma cláusula com a possibilidade de conversão dívida em ações da BrT na Highlake, caso o Opportunity assim quisesse - o que inverte a própria lógica desse tipo de operação. A operadora estima em US$ 108 milhões (R$ 280 milhões à época) os prejuízos decorrentes do custo de oportunidade. Há indícios de irregularidades ainda, segundo a auditoria, na relação com a agência de viagens Kontik. Operada pela irmã e pelo cunhado de Dantas, a empresa vendia passagens aéreas para a BrT por "tarifa cheia", com "substancial" aumento de custos para a operadora. O levantamento cita também perdas de R$ 2,238 milhões com a contratação de Roberta Fisher, conselheira para oportunidade de negócios, chamada pela nova diretoria de "assessora de um milhão de dólares". Não foram encontrados registros de serviços prestados por ela, nem a executiva respondeu às perguntas da empresa sobre eventuais trabalhos realizados. A denúncia levada à CVM pela nova diretoria da BrT cita nominalmente Dantas, a ex-presidente da empresa Carla Cico e mais oito pessoas - entre as quais Carlos Rodemburg e duas irmãs do banqueiro. "Estamos convictos de que precisamos buscar ressarcimentos", afirmou o advogado da operadora, Francisco da Costa e Silva. "A companhia está determinada a agir sem marola nem confusão. Se não fizermos isso segundo a Lei das S.A., passaremos a ser co-responsáveis pelos prejuízos", emendou Costa e Silva. Segundo a nova diretoria da BrT, os supostos desvios detectados até agora são apenas parte das irregularidades cometidas por Dantas e seus executivos na gestão da operadora. O novo comando da BrT disse que continuará investigando operações suspeitas e preferiu não se pronunciar, por enquanto, sobre o caso Kroll.