Título: Após quatro altas, dólar chega a R$ 2,26
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 13/12/2005, Finanças, p. C2

A cada dia fica mais difícil ao Banco Central dar novos impulsos de alta ao dólar comercial. As instituições que vinham carregando pesadas e arriscadas posições vendidas já se desfizeram da maior parte delas nos últimos quatro dias úteis. E depois que, na quinta-feira, o BC zerou sua exposição cambial no mercado futuro, os leilões de swaps reversos vêm perdendo fôlego. O realizado ontem foi o de volume mais baixo. O BC vendeu 60,8% da oferta de 12,5 mil contratos e comprou US$ 365,3 milhões. Embora continue sendo muito vantajoso aos bancos adquirir os swaps invertidos, pois são remunerados pela taxa Selic, o mercado já está saturado de papéis. Desde que voltou a vender estes contratos, no dia 17 de novembro, o BC já retirou US$ 5,89 bilhões. O BC lutou ontem contra a tendência internacional de depreciação da moeda americana e ingressos expressivos de capitais estrangeiros no país, atraídos pela certeza de que, em sua reunião de amanhã, o Copom irá preservar conservadora sua política monetária. Mesmo assim, o BC não abandonou sua ofensiva cambial em suas duas frentes. De manhã, vendeu swaps reversos e à tarde promoveu o tradicional leilão de compra de dólares no mercado à vista. Aceitou 10 propostas pelo preço de R$ 2,2640. Mas dada a superoferta externa, o dólar fechou em preço mais baixo, a R$ 2,26, avanço de 0,35%. Foi a quarta alta em seqüência, período durante o qual acusou valorização de 3,8%. No dia em que o BC parar de intervir, o dólar desaba. O BC terá de continuar se endividando à vista e no futuro para conter a apreciação cambial já que se recusa a trilhar a via monetária.

Inflação baixa não impressiona juro futuro

Mesmo diante de dois índices de inflação tranqüilizadores divulgados ontem - o IPC FIPE da primeira quadrissemana de dezembro foi de 0,18%, ante 0,29% do final de novembro, e a primeira prévia do IGP-M desceu a 0,06% comparativamente ao 0,16% do mesmo decêndio de novembro -, o mercado futuro da BM&F sustentou seu prognóstico de que o Copom irá amanhã manter o mesmo percentual conservador de redução da Selic utilizado nas duas reuniões anteriores. Para o pregão, o juro cairá somente meio ponto, para 18%. É o que está implícito na previsão de CDI, 17,98%, para a virada do ano. O contrato mais negociado no mercado futuro, para janeiro de 2007, permaneceu estável em 16,56%. Ele embute robusto prêmio na hipótese de o BC iniciar 2006 com corte mais agressivo do juro - de 0,75 ponto - e manter esse ritmo ao longo das outras sete reuniões do Copom marcadas para o ano que vem. Nesta hipótese, a taxa acumularia queda de seis pontos e fecharia o ano em 12%. Portanto, o DI mais líquido, janeiro de 2007, incorpora a previsão de que em algum momento de 2006 o BC irá parar de cortar a Selic, ou então voltar a reduzi-la em passo mais comedido. Afinal, para IPCA de 4,5%, taxa nominal de 12% paga juro real de 7,18%. E, pelos manuais seguidos à risca pelo BC, a economia não tolera juro real abaixo de 10% sem gerar pressões inflacionárias insuportáveis.