Título: Construção pode ter crescido mais
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 06/01/2006, Brasil, p. A5

Conjuntura Alta de insumos foi de 0,4%, mas produção de cimento subiu 5,7% até outubro de 2005

A produção de cimento pela indústria brasileira cresceu 5,7% entre janeiro e outubro de 2005, um número bem acima do obtido em 2004, uma alta de 1,2%. O emprego formal no setor avançou 6,2% no mesmo período, enquanto o número de financiamentos imobiliários para a construção subiu nada menos do que 80%. No entanto, a produção de Insumos Típicos da Construção Civil (ITCC), que engloba itens como canos, ladrilhos, cimento e aço, teve alta de apenas 0,4% entre janeiro e outubro, e a produção de aço plano, levou um tombo de quase 7% até novembro. Essa discrepância pode mascarar o desempenho final do setor no ano passado. Na avaliação de economistas, o indicador de insumos típicos, medido pelo Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE) subestimou os resultados da construção civil. Pelos cálculos de Fernando Montero, da Convenção Corretora, com base nos dados do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC), a produção desse insumo avançou 3% em 2005. "É um produto que não dá para exportar, nem para estocar, porque é perecível, vai direto para as obras", explica. Tanto para Montero como para o economista Bráulio Borges, da LCA Consultores, a forte queda na produção de aço em 2005 derrubou o indicador da construção do IBGE. Em 2004, a produção desse insumo cresceu devido à forte demanda, provocada pelo receio do aumento do preço do produto. Com isso, as empresas ficaram estocadas. Como o ano de 2005 não foi como o esperado, ao invés de comprar mais aço, as empresas apenas desovaram seus estoques. Por outro lado, o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo (Sinduscon), João Cláudio Robusti, diz que a construção realmente decepcionou e que somente os dados do cimento destoaram do resto da construção civil. Os dados positivos, como o crescimento de quase 10% no emprego formal no setor até novembro, são explicados, segundo Robusti, pela formalização do trabalho, promovida pela fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego. No caso do cimento, a informalidade também pode explicar a maior venda, sem aquecimento na atividade. "Como a construção informal representa 63,8% do setor, acredito que esse material está sendo utilizado em pequenas reformas, que não são captadas pelos dados do IBGE", estima. Além disso, Robusti explica que nesse tipo de obra há desperdício de cimento. A economista Amaryllis Romano, da Tendências, partilha da opinião do presidente do Sinduscon e diz que a construção civil teve um ano decepcionante. Mas pondera que a construção habitacional não fez feio. "Os demais setores ficaram paralisados, mas o sistema financeiro de poupança e empréstimo liberou 57% a mais de dinheiro no ano passado para construção." No entanto, um exemplo de que o desempenho da construção civil não foi tão ruim está nos números dos fabricantes de pisos e revestimentos. A Cecrisa viu o faturamento aumentar 15% no ano passado só para o mercado interno, que representa 62% das vendas da empresa. Paulo Benetton, diretor de vendas, conta que esse resultado foi bem melhor do que o de 2004, quando as vendas ficaram estáveis em relação ao ano anterior. O aumento de faturamento foi conseguido não só por maiores vendas, mais também por repasses de preços, na casa de 10%, e demanda por produtos de maior valor agregado. O diretor avalia que essa alta nas vendas não está ligada somente às pequenas reformas informais, chamadas de consumo formiga. "Aqui 50% das vendas são feitas diretamente aos construtores, pelo canal da engenharia." Para 2006, a expectativa é repetir o crescimento de 15%. "Com perspectiva de juros em queda não há como estar pessimista", ressalta Benetton. Na Dicico, outra empresa do ramo, o faturamento cresceu 15% e chegou a R$ 290 milhões. Isso na comparação com as mesmas lojas que existiam no ano anterior. Se contabilizado o resultado das duas novas unidades abertas em 2005, a alta chega a 45%. "A empresa ainda é jovem e tem conquistado espaço no mercado. Sei que fomos bem, enquanto a construção civil como um todo patinou", avalia Jorge Letra, diretor de gestão da Dicico. Os planos para 2006 são de expansão novamente. A empresa está construindo duas novas lojas e pretende abrir mais cinco até o final do ano, totalizando 20 unidades.