Título: BrT faz ajustes e anuncia provisão de R$ 622 milhões
Autor: Talita Moreira
Fonte: Valor Econômico, 06/01/2006, Empresas &, p. B2

Telefonia Medida deverá levar operadora a prejuízo, dizem analistas

As demonstrações financeiras da Brasil Telecom (BrT) referentes ao quarto trimestre virão com provisões de R$ 622 milhões - o que deverá levar a operadora a fechar o ano com prejuízo. Por conta disso, as ações da operadora e de sua controladora, a Brasil Telecom Participações, foram negociadas em queda durante todo o dia de ontem na Bovespa. As projeções de analistas de investimentos são de que a BrT registrará perda em torno de R$ 700 milhões nos três últimos meses de 2005. De janeiro a setembro, a companhia operacional acumulou prejuízo líquido de R$ 37,7 milhões. A decisão de fazer uma série de provisões foi anunciada pela operadora ontem, em comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Trata-se da segunda e maior "limpeza" de passivos do balanço feita pelos fundos de pensão e pelo Citigroup desde que afastaram o Opportunity da gestão da BrT, no início de outubro. Apesar disso, o vice-presidente financeiro da operadora, Charles Putz, negou qualquer relação entre a baixa contábil e a auditoria que a nova administração está fazendo nas contas da empresa. "Eu não gostaria de caracterizar isso como coisas que vieram da gestão anterior. Fizemos agora porque o fim de ano era o momento mais apropriado", disse, em entrevista por telefone. Segundo Putz, eventuais gastos indevidos praticados pela diretoria apontada pelo Opportunity serão objeto de medidas judiciais e não de provisões, uma vez que as perdas já foram absorvidas pela BrT. Relatório enviado à CVM em dezembro pelo Citi e pelos fundos indica que a gestão anterior teria desviado ao menos R$ 361 milhões da operadora. As provisões que constarão do balanço do quarto trimestre referem-se a cinco itens. A principal delas, no valor de R$ 198 milhões, está relacionada a prováveis derrotas em processos judiciais sobre contingências trabalhistas e previdenciárias. Um ajuste de R$ 171 milhões será feito para refletir mudanças no cálculo atuarial da Fundação BrT Prev. Estorno de créditos de ICMS obtidos sobre o consumo de energia elétrica, mudanças na orientação dada pela Anatel para o recolhimento do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust) e maior conservadorismo para reconhecer inadimplência são os outros focos de provisionamento. Para o analista Carlos Vasquez, do Pactual, as medidas são boas do ponto de vista administrativo, porém são negativas para os resultados imediatos da BrT. "É uma postura que mostra bem a diferença entre a gestão atual e a anterior. Estão querendo ser mais conservadores e transparentes", afirmou. Um relatório da corretora Brascan ponderou que as medidas indicam pessimismo da diretoria da BrT em relação à possibilidade de "desembolsos futuros" e comprometem a geração de caixa - embora, segundo Putz, não haja outros grandes ajustes esperados para os próximos meses. Na avaliação de Alex Pardellas, do ABN-Amro, as provisões deverão ter impacto no desempenho da operadora em bolsa no curto prazo. As ações preferenciais da empresa operacional fecharam o dia valendo R$ 9,98, o que significa queda de 2,91%. Os papéis da BrT Participações recuaram 3,06% e encerraram o pregão a R$ 17,06.