Título: Embargo à carne bovina derruba preços internos
Autor: Alda do Amaral Rocha
Fonte: Valor Econômico, 06/01/2006, Agronegócios, p. B10

Pecuária Consumo fraco também ajuda a pressionar cotação no atacado

O embargo à carne bovina brasileira - decorrente do ressurgimento da febre aftosa no país - derrubou os preços dos cortes no atacado. Desde outubro, o corte de dianteiro já recuou 27,5% o quilo em São Paulo, de acordo com a Scot Consultoria. No caso do traseiro, a desvalorização foi de 6,9%. O cálculo foi feito com base nos preços médios mensais no atacado e considera apenas os primeiros cinco dias de janeiro. O corte de dianteiro avulso saiu de R$ 3,04 o quilo, em média, em outubro, para R$ 2,20 este mês e o de traseiro, de R$ 4,55 para R$ 4,23 o quilo, segundo a Scot. A aftosa no Mato Grosso do Sul e a confirmação de foco, pelo Ministério da Agricultura, no Paraná levaram 53 países a embargar total ou parcialmente a carne bovina brasileira. Com todos esses países sem comprar do Brasil, os frigoríficos acabam direcionando mais carne para o mercado interno, ainda que parte deles tenha reduzido o abate. "Com o embargo, frigoríficos direcionaram carne para o mercado doméstico", observou Fabiano Tito Rosa, da Scot. Ele acrescentou que o consumo interno de carne bovina é fraco, o que também contribui para o recuo das cotações. A demanda desaquecida pode ser explicada pelo período de férias e também porque no início do ano se concentra o pagamento de vários tributos, lembrou Rosa. A forte queda na cotação do dianteiro pode ser explicada, em grande parte, pelo embargo da Rússia, país que compra principalmente esse tipo de corte do Brasil. Um dado que revela a redução nas vendas externas de cortes de dianteiro nos últimos meses é o preço médio da carne in natura na exportação. Em julho de 2005, a cotação média ficou em US$ 2.167 por tonelada. Em novembro passado, alcançou US$ 2.409, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior. "Isso mostra que houve mais exportação de cortes nobres, cuja cotação é mais alta", afirmou Jerry O'Callaghan, diretor da unidade de carnes da Coimex. Já os cortes de traseiro recuaram menos no mercado interno porque existe demanda para esse tipo de produto no período de festas de fim de ano, observou o analista. Tito Rosa, da Scot, disse, porém, que nem o período de festas de fim de ano foi bom para as vendas de carne bovina, já que nessa época tradicionalmente cresce o consumo de cortes suínos e aves. Apesar da queda nos preços dos cortes bovinos no atacado desde outubro, o recuo no varejo não ocorre na mesma proporção, disse Tito Rosa. Segundo ele, a concentração do varejo dificulta recuos maiores. Dados da Fipe confirmam. Em dezembro passado, os preços das carnes bovinas tiveram queda de 1,04% no varejo paulista. Mas só o dianteiro avulso, recuou 17,8% de novembro para dezembro, conforme dados da Scot. E o traseiro, 4,2% no período. O mercado desaquecido para os cortes bovinos no mercado interno - aliado ao embargo à carne bovina brasileira - já derruba também a arroba do boi gordo. Um agravante é que as duas situações ocorrem exatamente num momento em que a oferta de gado está aumentando por causa do período de safra. Segundo a Scot, a cotação média da arroba do boi gordo em São Paulo caiu 6,2%, de R$ 56,30 em outubro para R$ 52,83 nos primeiros cinco dias de janeiro. O'Callaghan, da Coimex, reconheceu que se os embargos perdurarem por muito tempo, os pecuaristas serão "obrigados" a dar desconto na arroba do boi.