Título: Investidor refreia apetite por risco
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 06/01/2006, Finanças, p. C2

Os mercados daqui e de fora moderaram ontem o seu entusiasmo com os sinais de que o ciclo de aperto monetário nos EUA está no fim. Novo dado mostrou que a economia americana não mostra a debilidade sugerida, no começo da semana, pelo ISM, um dos índices de atividade mais observados pelos analistas. O dado mais recente revelou que os pedidos de auxílio-desemprego caíram para o menor patamar em mais de cinco anos. Na última semana de 2005 foram formalizados 291 mil pedidos, quando Wall Street previa 320 mil. Em queda desde terça-feira, os juros dos títulos de 10 anos do Tesouro americano subiram ontem de 4,35% para 4,38%. A intensa procura por bônus de emergentes refluiu. E o risco-país subiu para 296 pontos-base, de 293 do fechamento anterior, afetando o ânimo dos demais mercados locais. Mesmo assim, o Banco Central não conseguiu interromper a rota de queda traçada pelo dólar desde terça-feira. Apesar de ter insistido com seus leilões de intervenção em dia de "realização" de lucros, a moeda fechou com desvalorização de 0,17%, vendida a R$ 2,2870. As atuações do BC não foram muito diferentes das anteriores. Colocou, ao meio-dia, 8,4 dos 8,8 mil contratos de swaps invertidos, adquirindo no mercado futuro US$ 399,3 milhões. No leilão das 15h30, realizado no mercado à vista de câmbio, das 23 propostas formuladas por 13 instituições aceitou 15 pela taxa de R$ 2,291.

Mesmo assim, BC não segura queda do dólar

Todos os indícios são de que, independentemente do nível da liquidez internacional e do frenesi especulativo com moedas de emergentes, ele insistirá nessa via intervencionista conservadora. Nada ortodoxo, como constrangimentos legais à formação de posições vendidas pelos bancos, será tentado. O BC não parece estar preocupado com as conseqüências a médio prazo de suas intervenções. A zeragem do passivo cambial líquido, ao reduzir a vulnerabilidade externa, atrairá ainda mais dólares especulativos para o mercado brasileiro. Isso exigirá compras adicionais e maiores emissões de títulos indexados a Selic. Como proporção do PIB, a dívida pública se expandirá para além dos 51%. Esse dado de solvência pode sobrepujar em importância, e justamente num ano eleitoral, a componente política do "cancelamento" da dívida externa. Um governo que zera sua exposição cambial externa e, ao mesmo tempo, insiste em pagar um juro real de 13% instala na terra o paraíso dos especuladores globais. O mercado não vê o menor risco de o BC expulsá-los daqui por meio de uma Selic baixa. Nem o histórico IGP-DI de 2005 - de 1,22%, o menor da história de 61 anos do indicador - motivou o mercado futuro de juros da BM&F a encurvar mais a linha de queda do CDI. Enquanto o contrato mais curto, para a virada do mês, caiu 0,02 ponto, para 17,66%, o mais negociado (giro de R$ 10 bilhões), para a virada do ano, subiu de 16,34% para 16,38%. O juro para um ano, referência para o crédito, ficou estável em 16,35%. Para o DI futuro, no dia 18, o Copom baixará a Selic de 18% para 17,5%.