Título: Governistas têm revés no adiamento das prévias
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 16/12/2005, Política, p. A12

Fracassou a primeira tentativa do grupo governista do PMDB de adiar de 5 para 31 de março as prévias partidárias: por falta de maioria que garantisse uma decisão favorável, o grupo desistiu de convocar uma reunião da Executiva nacional, esta semana, e se resignou com a convocação feita pelo presidente da sigla, Michel Temer (SP), que marcou a reunião para 24 de janeiro de 2004. Foi uma vitória do ex-governador Anthony Garotinho (RJ), o que não significa que os empecilhos para sua candidatura tenham sido removidos. Os governistas pretendiam ir à reunião com pelo menos nove dos 16 votos assegurados. Mas foram surpreendidos com a "hesitação" dos senadores Ramez Tebet (MS) e Maguito Vilela (GO). Os dois disseram que assinariam o pedido de convocação, mas não o fizeram efetivamente. Na avaliação do grupo, a "hesitação" de Tebet e Maguito se deve provavelmente às articulações de Garotinho em Mato Grosso do Sul e Goiás: no primeiro, ele teria prometido o apoio dos evangélicos à candidatura de André Puccinelli, apoiada por Ramez. Em Goiás, à candidatura do próprio Maguito, que é primeiro vice-presidente nacional do PMDB. O episódio serviu de alerta ao grupo governistas, pois demonstrou que as articulações regionais conduzidas por Garotinho podem estar tendo resultado. Percebendo as dificuldades dos adversários, Temer tomou a iniciativa de marcar a reunião da Executiva para 24 de janeiro do próximo ano, quando então seria tentado um acordo entre as correntes pemedebistas. Algo como adiar a prévia para 19 de março e não para 31, data que poderia inviabilizar a candidatura tanto de Garotinho como a dos governadores interessados - eles precisariam deixar o cargo dia 1 de abril. Se não for candidato, Garotinho planeja lançar a mulher, Rosinha Matheus, ao Senado e concorrer à Câmara. Os governistas ainda pensam em antecipar a reunião, mas já se conformaram com o mês escolhido por Temer, janeiro. Esperam com isso "esfriar" o resultado da última rodada de pesquisas de opinião, que situam Garotinho com algo entre 14% e 20% do eleitorado. Um capital que julgam "considerável", ainda mais depois que a estrutura do PMDB for colocada a serviço da candidatura. No mínimo, avalia-se, o partido teria condições de negociar o apoio no segundo turno em condição confortável. O problema é que a cúpula pemedebista acredita que, nesse caso, Garotinho negociaria um apoio pessoal, não seria propriamente o PMDB ou os caciques partidários, como é usual na sigla. Uma frase comum entre os pemedebistas é que "Garotinho faz vôo solo, seu projeto é pessoal". Sem se empolgar com a candidatura, a cúpula pemedebista procura alternativas ao nome do ex-governador, de vez que todos asseguram que sigla terá candidato. Ontem, o presidente do Senado, Renan Calheiros, voltou a conversar com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim, que reafirmou a intenção de deixar o cargo em março. Os dois fizeram uma avaliação sobre as prévias. Renan ainda acha possível adiar, mas foi informado por outros integrantes da Executiva de que será muito difícil. Além de Garotinho, só o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, manifestou até agora interesse em disputar as prévias. Nos últimos dias, a cúpula do PMDB passou a avaliar o nome do governador Roberto Requião, do Paraná: seria muito forte na TV, sobretudo nos debates. Requião é conhecido por campanhas extremamente agressivas. Mas o PMDB também considera a hipótese de não ter candidato, caso a verticalização das eleições seja mantida.