Título: Sem fuga de capitais
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Fonte: Correio Braziliense, 11/05/2010, Economia, p. 12

Para o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, a crise europeia não respingará no Brasil. Mas Bresser-Pereira, ex-titular da Fazenda, alerta para o crescente desequilíbrio nas contas externas, que põe o país no mesmo caminho da Grécia

O ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, Paulo Bernardo, disse considerar improvável que a crise financeira europeia respingue no Brasil e afirmou não temer uma fuga de capitais do país por causa dela. ¿A economia da Grécia não tem peso suficiente para arrastar o mundo inteiro para uma crise¿, avaliou o ministro durante o 2º Seminário Nacional de Orçamento Público. Ele admitiu, no entanto, que o fato preocupa o governo. ¿O problema é se isso começar a se multiplicar por outros países e gerar pânico. Aí, sim, pode acontecer uma crise maior¿.

Para o ministro, o pacote de 750 bilhões de euros colocados à disposição pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pela União Europeia para socorrer as economias problemáticas do continente contribuirá de forma significativa para o estancamento da crise. Por isso mesmo, não acredita em uma fuga de capitais no Brasil.

¿Vai tirar dinheiro para investir onde? Na Europa? Eu acho que quem tirar dinheiro daqui vai acabar perdendo¿, disse. ¿Temos de ter muita tranquilidade e lembrar que o Brasil é um dos países que terá melhores índices de crescimento neste ano, e que tivemos as menores sequelas na época da crise¿. E finalizou: ¿Não dá para pensar em nos tornarmos a quinta economia do mundo sem nos preocuparmos com a questão fiscal.¿

Mesmos erros Mas preocupação é o que manifestou o ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira, que criticou os deficits em transações correntes que o Brasil vem acumulando desde 2008. Segundo ele, o país está cometendo os mesmos erros que causaram a crise grega. ¿Nós estamos no mesmo caminho da Grécia. Voltamos a ter deficit de conta-corrente e voltamos firme e forte.¿

O economista disse que o aumento do gasto brasileiro no exterior pode causar um desequilíbrio nas contas do país e até uma crise. E afirmou que dados do Banco Central apontam que, neste ano, os brasileiros devem gastar no exterior US$ 49 bilhões (cerca de R$ 85 bilhões) a mais do que os estrangeiros gastarão no país. Em 2009, este saldo negativo foi de US$ 24,3 bilhões; em 2008, US$ 28,1 bilhões.

Bresser-Pereira explicou que uma das causas da crise grega foi justamente o descontrole do balanço de pagamentos. Lá, cidadãos e governo teriam gasto demais fora do país e tiveram problemas para renegociar o pagamento de suas dívidas. Apesar do alerta, o ex-ministro afirmou que a atual crise na Grécia não deve trazer consequências imediatas ao Brasil, que não terá seu crescimento impactado pelos problemas na Europa.

O crescimento também deverá retornar ao cenário mundial. De acordo com o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, a recuperação econômica mundial não apenas está ¿confirmada¿, como também em ¿aceleração¿. Trichet, que estava na Basileia, Suíça, disse que ¿um certo número de observações, em particular nos países emergentes, demonstram que as estatísticas são melhores que o previsto¿, destacou Trichet.

No entanto, apesar dos sinais positivos de crescimento, Trichet advertiu que permanece ¿prudente¿ a respeito da evolução do crescimento econômico mundial.

ação contra novo colapso Agências reguladoras dos Estados Unidos e as seis maiores bolsas do país fecharam um acordo preliminar sobre circuit breakers, dispositivo para frear transações quando os mercados estão em queda livre, informou a Securities and Exchange Commission (SEC), órgão que regula e fiscaliza o mercado de capitais norte-americano. A presidente da SEC, Mary Schapiro, se reuniu em Washington com os chefes das principais bolsas de ações e opções dos EUA e com a Financial Industry Regulatory Authority, outra reguladora, para discutir as causas do misterioso colapso das bolsas de valores norte-americanas na quinta-feira passada e possíveis reformas para evitar que isso aconteça novamente. A SEC não deu detalhes sobre como serão as correções. Quatro dias após a queda brusca dos mercados durante o pregão, que logo depois se recuperaram ¿ tudo isso em apenas 20 minutos ¿ órgãos reguladores de valores mobiliários ainda buscam respostas para o que aconteceu.