Título: Alckmin toma aulas para campanha
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 09/01/2006, Política, p. A8

Sucessão "República dos Bandeirantes" começa a desenhar esboço de eventual programa de governo

Empenhado em viabilizar-se como candidato do PSDB à Presidência da República (ontem, inclusive, anunciou que não pretende concorrer a outra cadeira que não seja a de presidente), o governador Geraldo Alckmin reuniu em torno de si uma equipe de especialistas que o tem ajudado a identificar as principais falhas da administração Lula e discute com ele idéias preliminares para um eventual programa de governo. Composto majoritariamente por auxiliares e ex-ministros tucanos, mas também por sumidades do meio acadêmico, o grupo começou a orientar o governador em suas propostas. Em outubro, o "staff" de Alckmin chegou a realizar um encontro conjunto, em jantar no Palácio dos Bandeirantes, mantido sob reserva. Integrantes do grupo relatam que o ex-presidente do BNDES e ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros destacou-se como o provável homem forte da "República dos Bandeirantes". "Ele só entra em campo para jogar de centroavante e, de preferência, com a camisa 10", afirma um dos participantes, que exerceu cargo de alto escalão no governo de Fernando Henrique Cardoso. Segundo outro participante do jantar, Alckmin já havia demonstrado interesse em buscar informações sobre a área de especialização de cada um, mas o encontro conjunto foi organizado pelo ex-ministro Paulo Renato, que falou sobre a área de educação. Além de Mendonça de Barros e de Paulo Renato, o grupo é quase inteiramente paulista. Muitos são tucanos de carteirinha, como Arnaldo Madeira, hábil negociador político e hoje secretário da Casa Civil de Alckmin, e o deputado federal Xico Graziano, ex-presidente do Incra, autor dos comentários sobre agricultura e reforma agrária nas conversas com o governador. Outros são fortemente ligados ao governo anterior, como o embaixador Sérgio Amaral, ex-porta-voz de Fernando Henrique que, no fim dos oito anos de mandato, foi alçado a ministro do Desenvolvimento. É esse também o caso de Roberto Giannetti da Fonseca, um dos principais especialistas do país em comércio exterior, área sobre a qual conversou com o governador, e do ex-ministro José Cechin, da Previdência. Mas há uma série de interlocutores de Alckmin sem vínculo partidário. Figuram na lista o economista piauiense Raul Velloso, especialistas em contas públicas, o professor aposentado da USP José Pastore e o infectologista David Uip, que foi médico particular do governador Mário Covas até a morte dele, em março de 2001. Na descrição dos integrantes da equipe, Alckmin tem se mostrado um aluno aplicado. Pergunta, faz anotações, mais ouve do que fala e pede sugestões de leitura. Com parte desses auxiliares, o governador conversa individualmente. Todos eles sabem que, em caso de êxito na campanha, Alckmin precisará negociar com aliados para formar o seu governo. Mas antes disso precisará ter um projeto. "O governador está em processo de entendimento dos problemas nacionais", disse ao Valor o ex-ministro Mendonça de Barros. Visto como alinhado ao prefeito de São Paulo, José Serra, esta parece ser uma condição que ficou no passado. Ele disse que é um "homem do PSDB" e, chamado para participar das reuniões no Palácio dos Bandeirantes, aceitou. "Se tivesse um terceiro pré-candidato que me chamasse, também iria." O economista não esconde que, agora, só entra em campo como capitão do time. "O próximo presidente tem uma oportunidade de ouro para finalmente colocar o Brasil na rota do crescimento sustentável. E eu não tenho mais idade nem paciência para participar de algo em que não tenho convicção."