Título: Versão de Eurides é desmentida
Autor: Tahan, Lilian
Fonte: Correio Braziliense, 08/05/2010, Cidades, p. 40

Em depoimento por escrito à Comissão de Ética, ex-governador nega que tenha dado dinheiro para a campanha da deputada em 2006. Até agora, nenhuma das oito testemunhas confirmou a tese da defesa

A versão de Eurides Brito (PMDB) para explicar o dinheiro, entregue por Durval Barbosa, que a distrital colocou na bolsa até agora não encontrou eco em nenhuma das oito testemunhas ouvidas pela Comissão de Ética da Câmara Legislativa. Em resposta por escrito a sete questões elaboradas pela relatora do processo de quebra de decoro contra a parlamentar, o ex-governador Joaquim Roriz (PSC) negou com ênfase o relato da deputada, segundo o qual os maços de dinheiro flagrados no vídeo gravado pelo ex-secretário de Relações Institucionais foram enviados a mando de Roriz para acerto de contas da campanha de 2006. Sem encontrar respaldo nos depoimentos realizados até agora, torna-se cada vez mais provável um relatório que sugira ao plenário a cassação do mandato da deputada.

No questionário respondido por Roriz à relatora do processo, Érika Kokay (PT), o ex-governador afirma que em 2006 suas relações com a deputada estavam estremecidas. Segundo o então candidato ao Senado, o distanciamento teria ocorrido em virtude da opção de Eurides em apoiar a chapa de José Roberto Arruda (sem partido). Naquela época, o PMDB ficou rachado entre os que se uniriam ao PSDB em prol de Maria de Lourdes Abadia e aqueles favoráveis à eleição de Arruda. A direção nacional do partido chegou a nomear um interventor, na época o deputado Tadeu Filippelli (PMDB).

¿Não, jamais, nunca¿ Roriz afirmou, em documento com reconhecimento de firma em cartório, que ¿não, jamais, nunca¿ recebeu por parte de Eurides uma planilha ou orçamento contendo as despesas realizadas pela deputada durante a pré-campanha de 2006. O ex-governador diz ainda que ¿nunca assumiu compromisso de ressarcir despesas da então candidata¿. Na semana passada, o assessor de campanha de Roriz Watanábio Brandão afirmou desconhecer qualquer tipo de ajuda financeira de Roriz a Eurides. E disse ainda que, na função de coordenador de campanha, dificilmente não tomaria conhecimento de um evento patrocinado pelo ex-governador. Para manter a versão, Eurides afirmou que, devido ao grau de intimidade com o ex-governador, nunca precisou de intermediários.

As respostas de Roriz se somam a uma série de relatos que ou desmentem a história contada por Eurides ou simplesmente não a confirmam. Dos oito depoimentos colhidos pela Comissão de Ética da Câmara, quatro foram sugestões da própria Eurides. Entre as quais o testemunho da merendeira aposentada pela rede pública de ensino Leondina Ribeiro de Couto. A servidora foi ouvida ontem. Mas o pouco que recordou sobre o episódio das reuniões feitas por Eurides quase nada contribuíram para reforçar a tese da distrital.

A merendeira confirmou que realizou um almoço na campanha de 2006 em sua chácara, no Gama, com o objetivo de divulgar o nome de Eurides para a Câmara Legislativa e de Joaquim Roriz para o Senado. Mas Leondina disse desconhecer quem pagou pelo almoço, que teria sido preparado e servido por uma empresa contratada por intermédio da deputada. Ela recordou, no entanto, que Roriz não havia comparecido ao evento, como havia sido combinado.

O ex-diretor financeiro da Terracap Ildeu de Oliveira também falou ontem à Comissão de Ética da Câmara. Integrante da executiva do PMDB em 2006, Ildeu contou os bastidores de uma reunião no auge da crise do partido em que estavam presentes Roriz e Eurides. Na ocasião, o ex-governador teria declarado publicamente o rompimento com a distrital. Segundo o ex-diretor da Terracap, Roriz teria dito que derrotaria Eurides. Ele chegou a comentar que não entendia por que o comentário foi direcionado apenas à deputada, já que outros partidários estavam na mesma situação. Nesse momento, Eurides deixou escapar que também não entendia a postura do ex-governador.

Os depoimentos, entre os quais o de Durval Barbosa, que deu detalhes sobre o suposto pagamento da mesada a deputada só complicaram a vida da distrital, que resistiu à ideia de renunciar. Durval chamou Eurides de mentirosa e acrescentou que ele próprio pagou a ela 48 parcelas de R$ 30 mil entre 2003 e 2006. Depois disso, o repasse teria continuado por meio do ex-chefe da Casa Civil José Geraldo Maciel. Na semana que vem, será a vez da ex-secretária de Educação, Vanderci Camargo, ser ouvida pela Comissão de Ética da Câmara. A oitiva está agendada para segunda-feira, às 14h.