Título: Apesar da crise de renda, boa saúde financeira
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 09/01/2006, Agronegócios, p. B11

Em meio à disputa de poder por representação, as cooperativas agropecuárias tiveram problemas em 2005 por causa da crise de renda dos grãos. Ainda assim, exibiram boa saúde financeira. Segundo a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), o segmento respondeu por 41% do Produto Interno Bruto (PIB) total do agronegócio, estimado em R$ 515,9 bilhões no ano. "Mas a perda de renda dos produtores rurais afetou o desempenho das cooperativas", disse o presidente da OCB, Márcio Lopes de Freitas. O Ministério da Agricultura calculou queda de R$ 21 bilhões na renda dos produtores em 2005. A Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) estimou perda de R$ 18 bilhões. Marcadas por forte atuação no mercado externo, as cooperativas voltaram a ter bom desempenho nesse front, e repetiu em 2005 os mesmos US$ 2 bilhões em exportações registrados em 2004 - apesar do câmbio desfavorável. Além disso, aumentaram os embarques de produtos com maior valor agregado, como açúcar e carnes de frango e suína. No caso do café, os preços médios de exportação subiram, o que beneficiou as cooperativas. Em franca expansão, o cooperativismo de crédito aumentou de 2,25% para 2,5% sua participação no volume total movimentado pelo sistema financeiro nacional em 2005. Hoje, há 1,4 mil cooperativas de crédito no país, que mantêm um crescimento médio de 10% nos últimos anos. "É algo muito importante para uma atividade que está apenas no começo", comemorou Freitas. As cooperativas começaram a operar nesse segmento em 1996. Hoje, têm oito mil postos de atendimento, 60% instalados em municípios onde não há bancos. A OCB informou também que o número de cooperativas registradas chegou a 7.363 no ano passado. Em 2004, eram 7.136. "Nas regiões Sul e Sudeste, onde o cooperativismo é mais forte, estão acontecendo fusões, o que é uma tendência natural no setor". Irritado com a pouca disposição do conjunto do governo em atender o setor cooperativista, Freitas afirmou recentemente: "Vivemos uma decepção política. O governo Lula não cumpriu as promessas de apoio ao desenvolvimento do cooperativismo". O presidente Lula disse, reiteradas vezes, que queria transformar o Brasil no "maior país cooperativista do mundo". Freitas cobrou a aprovação da reforma da Lei do Cooperativismo e uma legislação tributária diferente para o setor, com a isenção das transações comerciais feitas entre cooperados e cooperativas, o chamado ato cooperativo. (MZ)