Título: Bancos devem liberar 50% mais
Autor: Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 09/01/2006, Finanças, p. C1

Crédito Imobiliário Novas regras de financiamento podem ser definidas esta semana pelo BC

Os bancos devem aumentar em 50% o volume de crédito imobiliário em 2006, para aproximadamente R$ 7 bilhões. Em 2005 foram R$ 4,7 bilhões, de acordo com dados preliminares da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). Somando os recursos da Caixa Econômica Federal e do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), o volume de crédito imobiliário deve atingir R$ 15 bilhões este ano, cerca de 60% acima dos R$ 9,5 bilhões liberados em 2005, estima a Abecip. Nesta terça-feira, técnicos do Banco Central (BC), da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e da Abecip vão se reunir para definir o plano de liberação de recursos para o setor em 2006 e, segundo executivos das duas entidades, é possível que novas regras sejam aprovadas e divulgadas já no final desta semana, por medida "ad referendum" do Conselho Monetário Nacional (CMN). Além dos recursos dos bancos privados, a Caixa já anunciou que deve liberar perto de R$ 2 bilhões em 2006, com recursos próprios e da caderneta de poupança, elevando o total dos bancos para R$ 9,5 bilhões. Do FGTS, cujo conselho curador aprovou um orçamento de R$ 10 bilhões, outros R$ 5,5 bilhões devem ser aplicados no financiamento imobiliário e o restante em projetos de saneamento, calcula Osvaldo Correa Fonseca, diretor geral da Abecip. O acordo entre os bancos e a indústria da construção, que vigorou em 2004 e 2005, de elevação gradual dos recursos liberados com revisão trimestral, foi suspenso. O Banco Central deverá obrigar todos os bancos a cumprirem o direcionamento obrigatório de recursos da caderneta de poupança para o financiamento da casa própria - 65% do total captado. Segundo Paulo Safady Simão, presidente da CBIC, a suspensão do acordo foi resultado de um consenso entre as duas entidades de que não havia mais necessidade. "O acordo foi importante enquanto as novas regras não estavam consolidadas", disse Simão, referindo-se ao novo arcabouço jurídico aprovado a partir de outubro de 2004 - a Lei 10.931, que regulamentou o patrimônio de afetação e a chamada MP do Bem, que, entre outras medidas, desonerou de impostos as transações imobiliárias. "Agora não há mais necessidade (de acordo) e o mercado tem que funcionar", afirmou o presidente da CBIC. Segundo ele, isso já está acontecendo, com vários bancos anunciando novas linhas de crédito a juros mais baixos e prazos mais longos. "A bola agora está com as construtoras, que precisam apresentar projetos adequados", reconheceu Simão, frisando porém que o setor espera que uma parte dos recursos dos bancos seja direcionada para imóveis de valor mais baixo, a partir de R$ 40 mil. O forte crescimento dos financiamentos em 2005 animou os bancos e as construtoras, mas o volume esperado para 2006 na verdade é uma estimativa conservadora. Luis Antonio Rodrigues, diretor de Crédito Imobiliário do Banco Itaú, disse que a instituição dobrou o volume de empréstimos no ano passado comparado a 2004 e superou em R$ 600 milhões o repasse obrigatório pelas regras do BC (65% da captação em poupança), além de ter batido seu recorde histórico de 600 contratos fechados em dezembro. Para este ano, entretanto, Rodrigues espera fazer R$ 1,4 bilhão em empréstimos, praticamente o mesmo realizado em 2005. "Grande parte dos projetos que estão aparecendo para financiamento são de imóveis acima de R$ 250 mil. Abaixo disso não há muita oferta", comentou Rodrigues. José Manoel Alvarez Lopez, superintendente de Crédito Imobiliário do Banco Santander Banespa, também vê com cautela a evolução dos empréstimos em 2006 e acredita que haverá uma certa retração da demanda. "Particularmente estou otimista, mas alguns eventos podem afetar o mercado, segundo as imobiliárias", disse Lopez, referindo-se às eleições presidenciais e até à Copa do Mundo. Segundo ele, o Santander triplicou o volume de empréstimos realizados este ano dentro das linhas facilitadas para imóveis acima de R$ 350 mil e planeja crescer 80% em 2006 comparado a 2005. Os números oficiais do banco serão divulgados nos próximos dez dias.