Título: Governo Lula está conquistando os bancos, diz presidente do ABN
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 09/01/2006, Finanças, p. C2

A condução da economia brasileira recebeu apreciação positiva dos principais grupos bancários internacionais, numa reunião anual informal com alguns bancos centrais, ontem, na sede do Banco de Compensações Internacionais (BIS) em Basiléia (Suíça). "Vimos que o governo (Lula) tem agido muito corajosamente na administração da política econômica", afirmou o presidente do banco holandês ABN AMRO, Rijkman Groenink, ao ser indagado sobre o que pensavam os banqueiros presentes sobre o Brasil. "Esse governo vem conquistando a confiança da comunidade bancária internacional", acrescentou. O BIS, espécie de banco dos bancos centrais, já criou a tradição de reunir um grupo seleto de banqueiros privados para todo começo de ano tratar dos principais temas financeiros globais com algumas autoridades monetárias. Ontem, além do ABN, participaram os principais executivos do Citibank, Deutsche Bank, Société Générale, UBS, Credit Suisse, Banco Intesa (Itália), entre outros. O presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles, foi um dos poucos participantes de nação emergente. Os participantes discutiram as perspectivas econômicas, disfuncionamentos nos mercados, "stress cenários", administração de riscos etc., mas não teriam debatido taxas de juros e câmbio, "porque aí se precisaria de dias e nunca chegaríamos a uma conclusão'', disse Groenink. Existe crescente convicção nos mercados de que o Federal Reserve, o BC dos EUA, está se preparando para dar uma pausa na alta dos juros, o que já provocou queda no dólar. Investidores em volta do mundo podem buscar mais rendimentos nos mercados emergentes, mas também indicam ser mais seletivos, não apenas sobre países mas igualmente sobre setores. O otimismo dos bancos internacionais ocorre apesar do modesto crescimento econômico do Brasil. Indagado se os bancos esperam mudanças na política econômica do Brasil por causa das eleições, o banqueiro holandês retrucou: "Não sei. Não se discutiu sobre isso". Já na reunião seguinte, só entre alguns presidentes de BCs de países emergentes, houve preocupações sobre o período eleitoral na América Latina, admitiu o presidente do BC argentino, Martín Redrado. Mas ele acha que os fundamentos macroeconômicos serão respeitados tanto por centro-direita ou centro-esquerda. Os BCs emergentes discutiram sobretudo implementação de metas de inflação. "Meirelles estava contente", contou Redrado. Meirelles quer mostrar na Basiléia que o governo Lula baixou a inflação para 9,2% no primeiro ano, 7,6% no segundo, provavelmente 5,7% no ano passado e que tudo conduziria a se aproximar das metas fixadas. Redrado previu que a inflação na argentina fique entre 5% e 8% este ano. A constatação geral, segundo Redrado, foi de que, apesar da desaceleração esperada na economia global, as condições macroeconômicas continuam fortes para o mundo emergente. Ha os riscos em torno do mundo - os preços do petróleo e menor rendimento dos ativos (ações, bônus, imóveis) -, mas o cenário é benigno, na avaliação dos banqueiros. Para a América Latina, a expectativa é de crescimento de 4,3%, beneficiado também pela persistente alta dos preços de commodities. Nesta segunda-feira, o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo de Rato, detalha as perspectivas econômicas para 2006 e depois pega o avião para o Brasil, para formalmente tomar conhecimento de que o país não deve mais a organização.