Título: Mercado aguarda troca ou recompra de bradies
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 09/01/2006, Finanças, p. C3

Dívida Renegociada Restam US$ 7,2 bi desses papéis, que vencem até 2024

Depois dos pagamentos antecipados ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Clube de Paris, o próximo passo do Tesouro aguardado pelo mercado financeiro é a troca ou a recompra da dívida externa renegociada, composta pelos chamados bônus bradies e pré-bradies. Em novembro passado, havia US$ 7,2 bilhões desses papéis circulando em mercado, com vencimentos entre 2006 e 2024. Todos esses títulos, com exceção dos Brazilian Investment Bonds (BIB, também conhecido como Exit Bonds), têm cláusulas que permitem a recompra pelo Tesouro nas datas de pagamento de juros ou amortização parcial. "A troca ou recompra desses papéis teria um efeito positivo para aproximar ainda mais o país do grau de investimento", avalia a economista Giovanna Rocca, do Unibanco. No caso de optar por uma operação de troca de bradies por bônus globais, diz Giovanna, a principal vantagem para o Tesouro seria resgatar uma dívida que paga cupons relativamente elevados e, em seu lugar, colocar papéis com juros mais baixos. Outra vantagem é a possibilidade de alongar prazos. Dos US$ 7,2 bilhões em papéis da dívida velha em mercado, US$ 4,4 bilhões vencem até 2013. Se a opção for pela recompra dos bradies, a vantagem será desmobilizar reservas internacionais - que são aplicadas a baixas taxas no mercado internacional - para resgatar uma dívida mais cara. O alto volume de reservas, que chegou a US$ 54,544 bilhões no último dia 5, é bastante confortável para bancar uma eventual recompra dos papéis. Há vantagens que são independentes do modelo usado pelo Tesouro em uma eventual eliminação dos bradies. Um dos ganhos seria liberar títulos do Tesouro americano que servem de garantia colateral a alguns dos bradies - casos do Discount Bond e do Par Bond. Outra vantagem seria eliminar do mercado títulos que, por sua complexidade, atrapalham uma precificação mais acurada do risco-país. As cláusulas de recompra fazem com que os bradies tenham, na prática, uma espécie de teto para as suas cotações. Como o Tesouro pode recomprá-lo por 100% do valor de face nas datas de pagamentos de juros ou amortizações parciais, dificilmente as cotações superam muito esse percentual. Esses tetos teóricos funcionam como limitadores a uma maior queda do risco-país. O fim dos bradies também teria o efeito de eliminar os últimos resquícios da dívida externa renegociada em 1994. "É um componente psicológico, que sem dúvida não deixa de melhorar a percepção dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil", diz Giovanna. Atualmente, os bradies já respondem por apenas uma pequena parcela ínfima do débito externo total do governo. O grosso desse passivo é formado pelos bônus globais, que, na posição de novembro de 2005, somavam US$ 44,881 bilhões. O volume de bradies sofreu grande redução nos últimos anos devido a amortização de alguns papéis e operações de troca de dívida. Os bônus IDU (Interest Due and Unpaid) saíram de mercado em 2001, quando venceram. O próximo vencimento integral de bônus seria neste ano, quando o Tesouro deverá quitar US$ 247 milhões de EI Bonds. No governo Fernando Henrique Cardoso, o governo fez as primeiras operações de troca de dívida velha por nova. Em 2005, o Tesouro fez uma operação de troca dos C-Bonds, eliminando o título que por anos foi o mais líquido da dívida externa brasileira. Inicialmente, o Tesouro agiu retirando 80% dos US$ 5,6 bilhões que circulavam em mercado; em seguida, exerceu opção de recompra do título, recolhendo os C-Bonds remanescentes. No caso dos US$ 248 milhões em BIBs, que não têm cláusula de recompra, o Tesouro poderia comprá-los no mercado secundário ou fazer operação de troca de dívida externa.