Título: Brasil é o terceiro melhor pagador da América Latina
Autor: Andrea Giardino
Fonte: Valor Econômico, 09/01/2006, EU &, p. D6
Remuneração Pesquisa coloca o país no ranking dos que oferecem os maiores salários da região
O Brasil ficou em terceiro lugar entre os países que melhor pagaram seus funcionários na América Latina em 2005. Ele divide a colocação com o México. O país ficou atrás apenas de Porto Rico e do Chile (1º e 2º lugar, respectivamente), que pela proximidade com os Estados Unidos possuem políticas de remuneração agressivas semelhantes às praticadas no mercado americanos. Os brasileiros então ganham só 9% a menos que os porto-riquenhos e possuem o mesmo salário dos mexicanos. Um grande avanço para o país uma vez que os valores adotados pelas empresas em solo mexicano eram bem superiores em relação aos de seus vizinhos, em razão do alto custo de vida. Os dados fazem parte de pesquisa realizada pela consultoria Watson Wyatt, a partir dos programas de remuneração adotados em cargos de todos os níveis hierárquicos, desde o alto escalão até funções operacionais. Ao todo foram levantadas informações de 700 subsidiárias de múltis instaladas na região. Cedido com exclusividade ao Valor , o estudo aponta para algumas constatações importantes. A principal delas é a preocupação das empresas em garantir o poder de compra dos funcionários no país, seguindo a realidade local. "As oscilações do câmbio, por exemplo, acabam afetando de forma direta os índices de remuneração na América Latina, tanto para baixo quanto para cima", diz Marco Santana, gerente regional da consultoria. Prova disso é que em alguns países os reajustes concedidos ano passado tiveram o objetivo de recompor as perdas salariais em conseqüência da inflação. E o Brasil saiu na frente, com um aumento real de 2,5% para presidentes, diretores e gerentes, os quais tiveram reposição de 8% contra uma taxa de inflação de 5,5%. O Panamá vem em seguida, com 2,6%, deixando para trás Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Honduras e México. Na contramão, muitas economias potenciais apresentaram em 2005 reajustes inferiores à inflação, causando uma pequena perda no poder de compra, como o Chile. Para Santana, os números revelam indícios de como esses países devem se comportar no próximo ano e quais os impactos em suas políticas de remuneração. "O aumento real dos salários assegura o poder de compra das pessoas. Quem não obteve o mesmo resultado pode sofrer uma desaceleração em sua economia". Para 2006, a Watson prevê um cenário bem parecido com o deste ano. No Brasil, a expectativa é de que haja uma recomposição salarial de 6,5% contra uma inflação de 4,5%. Enquanto México terá uma pequena reação de 0,7% em relação a 2005. Também prometem aumentos acima da inflação Colômbia, Costa Rica, Nicarágua, Panamá e República Dominicana. Já Chile, Argentina e El Salvador devem sair de uma posição desfavorável, embora não tenham perspectivas de reposição. Porto Rico é apontado como único país a ter aumentos salariais abaixo da inflação. Entretanto, o que aparentemente parece ser algo positivo para o Brasil, pode provocar efeitos contrários. Se de um lado há uma valorização dos salários, do outro quando as multinacionais estudam onde pretendem realizar investimentos fora da matriz, esse pode ser um ponto desfavorável. De acordo com Santana, a questão custo sempre é fator decisivo. "Muitas empresas preferem lugares como China e Índia para abrir novos negócios. E a principal razão é que ali existe uma mão-de-obra bem mais barata", analisa. "Isso faz com que países como Uruguai e Argentina tenham enorme poder para atrair recursos". Os executivos argentinos, inclusive, começam a ser vistos com outros olhos pelas empresas instaladas na região. Por terem um um alto grau de formação acadêmica e nível cultural, muitos são contratados para assumir postos de comando no Brasil, Chile e na Venezuela. Segundo o gerente regional da Watson, cada vez mais cresce o número de argentinos que vêm para cá ocupar funções de comando. "Boa parte nem chega a trazer a família, já que em duas horas eles estão em casa. Muitos passam apenas a semana no trabalho e viajam de volta nos fins de semana", afirma Santana. "O que implica em menor custo para a companhia, que tem um profissional muitas vezes altamente qualificado pelo mesmo patamar salarial de um brasileiro com menos experiência". E embora cada país tenha práticas diferentes de remuneração, algumas companhias, em pequeno número, vêm criando estruturas regionais. Pagam o mesmo valor não importando onde o profissional esteja alocado. O aumento na mobilidade entre gerentes e diretores pela América Latina, ao contrário do que era esperado, não gerou faixas salariais com menores disparidades. "É uma questão difícil de encontrar saída, porque sempre estaremos sujeitos à evolução de cada mercado, o que implica em níveis diferentes de inflação, incrementos salariais e câmbio", analisa Santana. "E o nível de remuneração sempre terá influência local muito forte, seja em termos de demanda e oferta de mão-de-obra, seja no custo de vida", afirma. Para ele, a mesma lógica se aplica a concessão dos pacotes de benefícios e incentivos de curto e longo prazo.