Título: Ministério anuncia acordo para sacrificar 2.212 bovinos no PR
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 16/12/2005, Agronegócios, p. B12

Crise sanitária

O secretário de Defesa Agropecuário do Ministério da Agricultura, Gabriel Maciel, afirmou ontem (dia 15) ter fechado um acordo com o governo do Paraná para sacrificar as 2.212 cabeças de gado suspeitos de ter contraído o vírus da febre aftosa. Os animais estão na fazenda Carioba, em São Sebastião da Amoreira. "Os animais serão sacrificados. Já construímos essa decisão em conjunto com o governo do Paraná", afirmou Maciel ao Valor. Mas a medida é polêmica. O vice-governador Orlando Pessuti, secretário da Agricultura do Paraná, negou qualquer acordo (ver matéria abaixo). Com o sacrifício, o Estado voltaria a exportar em um prazo de seis meses. Sem isso, mas com o reconhecimento oficial da ocorrência da doença pelo Ministério da Agricultura, a abertura demoraria até 18 meses. Desde o anúncio das suspeitas envolvendo gado paranaense, em 21 de outubro, houve desencontros entre autoridades do ministério e do governo estadual. A demora na divulgação dos exames laboratoriais reacenderam antigas rixas entre o ministro Roberto Rodrigues e governador Roberto Requião (PMDB), que já haviam se estranhado na questão da liberação comercial de organismos geneticamente modificados (OGMs), os transgênicos. Segundo pecuaristas e frigoríficos, no caso da febre aftosa sobraram farpas e acusações, mas faltaram decisões. No próprio ministério apareceram divergências internas. Em audiência na Câmara, a diretora de programas da área animal do órgão, Tânia Lyra, afirmou que poderia ter havido um resultado "falso positivo" para a aftosa provocado pela vacinação do gado no Paraná. Ontem, irritado, o secretário Gabriel Maciel reagiu às afirmações de sua subordinada: "É uma opinião pessoal dela. Ela não fala pelo ministério, mas por ela. Quem fala pela Defesa Agropecuária sou eu", esbravejou. Nesse quadro de desencontros, dezenas de importadores fecharam seus mercados e sinalizaram ter perdido a confiança no sistema brasileira de vigilância e emergência sanitárias. Já são 53 os países que embargaram as compras da carne brasileira. De Hong Kong, onde está envolvido nas duras negociações sobre subsídios agrícolas na Organização Mundial do Comércio (OMC), o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse ontem que tem dificuldades para reabrir os mercados da União Européia e da Rússia. "Não houve espaço porque é um assunto técnico, e aqui as negociações têm mais um caráter político", disse. Segundo ele, as conversas na OMC têm um caráter mais de longo prazo e as questões comerciais mais imediatas têm sido relegadas para outro momento. Rodrigues informou que ainda não conseguiu tratar do assunto com a delegação russa na OMC. "Ainda estamos esperando pelos russos. É um assunto que ainda não foi tratado por aqui".