Título: Dissenso no Copom derruba juro longo
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 16/12/2005, Finanças, p. C2

O surgimento de dissidentes dentro do Copom do Banco Central encorajou o mercado futuro de juros da BM&F a reduzir as projeções de CDI para meses mais distantes. O contrato que reflete a Selic do último mês do governo Lula, dezembro de 2006, recuou de 16,49% para 16,41%. A existência de dois integrantes do Copom dispostos a já cortar o juro em 0,75 ponto, contra seis renitentes defensores do comedimento representado pelo ritmo de meio ponto, torna até dispensável a leitura da ata desta última reunião do ano, a ser publicada na quinta-feira, para a formação do consenso visando ao primeiro Copom de 2006, dia 18 de janeiro. Já antes do aparecimento do desacordo, o pregão previa intensificação do compasso de queda, mas sem consenso absoluto. Agora não há mais dúvida de que a Selic recuará para 17,25% no mês que vem. Mesmo porque a discordância dentro do Comitê só seria possível, conforme interpretação majoritária colhida ontem no mercado, se fosse capitaneada justamente pelo presidente Henrique Meirelles, mais sensível aos dados sobre a retração da atividade econômica do que o núcleo duro, aferrado aos índices de inflação. Os analistas supõem que diretores administrativos não teriam capacitação técnica nem quilate político para sustentar opinião contrária à do grupo austero formado pelos diretores de política monetária, política econômica e assuntos internacionais. Uma parte do mercado aposta que o BC reduzirá a taxa em 0,75 ponto nas reuniões de janeiro e março (em fevereiro não haverá encontro do Copom) e, com taxa no degrau de 16,50%, irá interromper o declínio. A parada técnica será destinada a reavaliação de todas as variáveis acompanhadas pelo Copom. A razão é que a taxa já estará, no terceiro mês do ano, muito perto da previsão de Selic para o final de 2006. A maioria dos economistas de bancos ainda sustenta o prognóstico de que o ano que vem se encerrará com taxa entre 15% e 16%. Por enquanto, o dissenso no Copom não ampliou o diminuto espaço técnico de dois a três pontos percentuais para a queda segura da Selic enxergado pelos analistas. No entender do economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, após queda acumulada de 3,25 pontos, o Copom não fará nada nas reuniões de abril e maio. "Caso o cenário prospectivo para a inflação permaneça positivo, em linha com as metas, e o cenário externo continue favorável, é muito provável que o Comitê retorne com o processo de redução da taxa a partir da reunião de julho", diz Agostini. A expectativa da Austin Rating para o juro em dezembro de 2006 é de que atinja o patamar de 15,5%, podendo chegar até 15%. Nessa segunda hipótese, será o menor valor dos últimos 31 anos.

Consenso de corte de 0,75 ponto em janeiro

Ninguém no mercado trabalha com a previsão, pelo menos com a administração conservadora hoje instalada no BC, de corte contínuo e linear da Selic de 0,75 ponto nas oito reuniões do Copom agendadas para 2006. Esse ritmo equivaleria a baixa acumulada de seis pontos percentuais, com o juro básico encerrando o ano a 12%. Mas já há economistas colocando taxa de 15% daqui há um ano como teto. Se houver condições, o BC poderá bancar juro real abaixo de 10%. Uma Selic de 14%, para inflação de 4,5%, paga juro real de 9,09%, ainda assim, no contexto atual, o maior do mundo. Os contratos mais curtos negociados no DI futuro subiram ontem, adaptando-se à decisão de seis diretores do BC de cortar a Selic em apenas meio ponto. O contrato para a virada do mês avançou de 17,88% para 17,89%. Desde o início da semana, o pregão passou a ver chance de um corte de 0,75 ponto. Operações foram fechadas para absorver Selic de 17,75%. Frustrada a expectativa, o contrato teve se ajustar para cima. Os outros segmentos do mercado financeiro exibiram uma ressaca pós-Copom. A Bovespa caiu 1,29%, uma desvalorização muito maior do que a necessária apenas para refletir as baixas externas. O Dow Jones recuou 0,02% e o Nasdaq, 0,09%. O risco-país subiu três pontos-base, para 313 pontos-base. Como o Brasil persistirá por muito tempo remunerando prodigamente o capital estrangeiro, o BC não esmorece em suas intervenções cambiais. Ontem, ele continuou batendo tanto no mercado à vista quanto no futuro. Neste, vendeu 11,7 mil contratos de swaps reversos, no valor de US$ 563,1 milhões. Desde 17 de novembro ele já vendeu 161,2 mil contratos, assumindo posição credora de US$ 7,649 bilhões. No mercado à vista, comprou moeda ontem por preço de R$ 2, 2955. O dólar fechou em alta de 0,79%, a R$ 2,299. Foi a sétima alta em sequência. No período, a valorização foi de 5,60%.