Título: Forte alta do IPA nos EUA pressiona o Fed
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 17/11/2004, Internacional, p. A11

Inflação Preços ao produtor sobem 1,7%, maior alta desde 1990; mercado cai com o temor de juro maior

Os EUA registraram no mês passado a maior inflação mensal ao produtor em quase quinze anos, 1,7% no mês de outubro. O índice, o mais alto desde janeiro de 1990, foi três vezes superior à média de expectativas de Wall Street, que estava em 0,5%. Apesar da grande influência da alta dos preços do petróleo, analistas viram o número com preocupação porque outros preços não sazonais (excluindo alimentos e energia) subiram 0,3% no mês, também o triplo do 0,1% esperado pelos economistas. Os mercados reagiram mal à surpreendente alta de preços. O índice Dow Jones da Bolsa de Nova York fechou em queda de 0,59%, ou 63 pontos, e a bolsa de ações de alta tecnologia Nasdaq caiu 0,74%. O mercado puxou as taxas de juros dos papéis públicos, prevendo ação mais rigorosa do Fed (o BC dos EUA) para conter a inflação. Embora os preços ao produtor sejam uma componente importante da análise feita pelo Fed para definir a taxa de juros, o que é determinante é a inflação ao consumidor. Os dados de outubro devem ser divulgados hoje. O economista Drew Mathus, do Lehman Brothers, diz que o Fed deve esperar pelo menos até o fim do ano para decidir se muda a estratégia de alta de juros lenta. Parte da pressão de preços veio do petróleo. O barril chegou a ser cotado a US$ 55 em outubro, mas recuou para US$ 47 este mês. Os preços de energia dispararam 6,8% no mês de outubro, a maior alta desde fevereiro de 2003, puxados por gasolina, óleo para aquecimento e gás natural. Os preços de alimentos subiram 1,6% - legumes subiram 34,2% e frutas, 11,3%. Foto: Associated Press

Uma mulher volta a chefiar a diplomacia dos EUA: o presidente Bush nomeia sua conselheira Condoleezza Rice para o Departamento de Estado O economista do Lehman Brothers acredita que a demanda externa está estimulando a inflação ao produtor nos EUA. "A maior alta de preços no núcleo do índice, que exclui alimentos e energia, ocorreu no grupo de bens de capital", disse em entrevista por telefone ao Valor, da sede do banco em Nova York. Paulo Leme, diretor do Goldman, Sachs, diz que o crescimento da Índia e China está pressionando preços internacionais. Entre os produtos com maiores altas de preços estão maquinário para mineração, caminhões leves e maquinário de construção civil. Os preços de bens de capital subiram 0,4% em outubro, pelo segundo mês consecutivo. A queda do dólar em relação a outras moedas também pode estar ajudando produtores de bens de capital nos EUA a elevar preços. "Para o comprador de máquinas americanas em euro, o preço continua o mesmo, mas o valor em dólares sobe", diz Mathus. Ainda é cedo, acredita Mathus, para identificar tendência duradoura de inflação mais alta, provocada pelo grande déficit fiscal e juros negativos no curto prazo. Leme, do Goldman, Sachs, diz que além da mudança de preços relativos de matéria prima provocada pela demanda dos países emergentes, há alguns fatores como inexatidão na coleta de preços no atacado e sobra de liquidez em mercados mundiais- o que demandará um aperto pelos bancos centrais não apenas dos EUA, mas também da Europa. Até agora, o Fed foi extremamente cauteloso ao elevar os juros e alguns meses antes da eleição chegou a ser visto pelo mercado como leniente com a inflação. Na semana passada, o banco central americano elevou os juros básicos anuais em 0,25 ponto percentual, para 2% ao ano. Espera-se uma nova elevação em dezembro. Leme, do Goldman, Sachs, projeta os juros básicos em 3,5% no fim do ano que vem. A queda do dólar e expectativa de continuidade de altos déficits vêm provocando preocupações. Na semana passada, o jornal de negócios "Wall Street Journal" ressaltou a forte alta dos preços do ouro, hoje cotado a US$ 430 por onça. Os metais preciosos costumam disparar em épocas em que se teme instabilidade econômica ou desconfiança em relação ao valor futuro da moeda (inflação ou desvalorização cambial).