Título: Para CNI, adesão da Venezuela vai alterar pouco o perfil do Mercosul
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 10/01/2006, Brasil, p. A3

Apesar da relevante produção de petróleo, a entrada da Venezuela no Mercosul pouco alterará o perfil econômico do bloco. A integração do país comandado pelo presidente Hugo Chávez representará um acréscimo de 7,7% do Produto Interno Bruto (PIB) do Mercosul, 11,6% da população e queda de 3,4% do PIB per capita, revela levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI). "Se o perfil econômico do Mercosul se modificasse muito, a agenda poderia ser diferente. Mas, se o perfil se mantém, os compromissos devem ser respeitados", diz Lúcia Maduro, economista da CNI. "Ao ingressar no Mercosul, a Venezuela tem que respeitar as normas vigentes, melhorar as condições de acesso ao seu mercado e se comprometer com os interesses econômicos e comerciais do bloco", completa. As declarações de Chávez contra o Acordo de Livre Comércio das Américas (Alca) assustam os empresários brasileiros que querem aumentar as vendas para os Estados Unidos. "Tem que desmistificar um pouco essa conversa. Seguramente é preciso uma relação comercial expressiva com os americanos", diz Lúcia. Segundo a economista, os Estados Unidos são o principal fornecedor da Venezuela, com 32% de participação. A adesão da Venezuela ao Mercosul foi discutida pela Coalizão Empresarial Brasileira (CEB) no fim de 2005, no Rio. Na reunião, com a presença de representantes do governo, a equipe da CNI avaliou os interesses brasileiros na negociação com a Venezuela. Existe a percepção de que há maior potencial de crescimento das vendas da Venezuela ao Brasil do que vice-versa. O levantamento da CNI conclui que as perspectivas de crescimento das exportações brasileiras para a Venezuela estão limitadas pela dimensão desse mercado e pela já elevada participação brasileira nos produtos em que o país é mais competitivo. A entidade selecionou 69 produtos nos quais o Brasil é competitivo e a Venezuela importa muito. Entre eles, compressores, máquinas para agricultura, chassis, calçados e pasta de dente. A participação média do Brasil nesses produtos nas importações venezuelanas é de 37%, contra 8,5% das vendas totais de produtos brasileiros para o país. Em 19 itens, a fatia de mercado do Brasil supera 50%. A CNI também detectou 55 produtos que a Venezuela é competitiva e o Brasil importa bastante. O market share da Venezuela nesses produtos está em apenas 4,5%. Estão incluídos produtos químicos, siderúrgicos, alumínio e borracha. A participação do Brasil nas importações venezuelanas aumentou de 4,1% em 1996 para 8,5% em 2004 - 90% de manufaturados. O país é hoje o terceiro maior fornecedor da Venezuela, atrás de EUA e Colômbia. Já as exportações da Venezuela para o Brasil caíram de US$ 1,5 bilhão por ano em média entre 1999 e 2000 para US$ 237 milhões entre 2003 e 2004. De acordo com estudo da CNI, a liberalização do comércio com os países sócios do Mercosul será o maior desafio da entrada da Venezuela no bloco. As relações do bloco com o país são disciplinadas pelo acordo entre o Mercosul e a Comunidade Andina, que a CNI considera "complexo e assimétrico". O acordo prevê 67 cronogramas distintos de desgravação entre o Brasil e a Venezuela. Em um ano, 80,9% do fluxo de comércio de produtos venezuelanos para o Brasil estará livre de tarifas. Na contramão, vai demorar catorze anos para 63% das exportações brasileiras serem liberalizadas. A adoção da Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul pela Venezuela não será tão difícil, pois sua estrutura tarifária é parecida com a do bloco. A alíquota média do Mercosul está em 10,7%, a da Venezuela em 12%. A maior alíquota coincide em 35%. Para acelerar a integração, uma missão com mais de 100 empresários do Brasil estará em Caracas em 23 e 24 de janeiro em busca de oportunidades de negócios no Encontro Empresarial Venezuela-Brasil. José Francisco Marcondes Neto, presidente da Câmara Venezuelana Brasileira de Comércio e Indústria, disse que serão discutidos investimentos em energia, financiamentos, crédito e negociações comerciais e tarifárias. A indústria naval brasileira vai aproveitar para discutir com a PDV Marina, braço de transporte da PDVSA, acordo para a construção de cerca de 40 navios a serem encomendados pela estatal venezuelana do petróleo. Fonte do setor disse que a idéia é fechar um acordo entre o Sinaval (que representa os estaleiros no Brasil), a PDV Marina e o Dianca, estaleiro estatal ligado à Marinha da Venezuela.