Título: Tucanos tentam minimizar tensão criada com declarações de Alckmin
Autor: César Felício, Caio Junqueira e Maria Lúcia Delgad
Fonte: Valor Econômico, 10/01/2006, Política, p. A5

Aliados do prefeito de São Paulo, José Serra, e do governador paulista, Geraldo Alckmin, trabalharam ontem para diminuir a tensão na disputa de ambos pela candidatura presidencial do PSDB. No front serrista, garante-se que o prefeito não está trabalhando para minar os apoios que o governador tem dentro do partido. Da trincheira de Alckmin, sinaliza-se que o governador não irá antecipar a sua desincompatibilização, como forma de obrigar o partido a definir agora a candidatura, em um momento em que somente Alckmin se lançou publicamente. "Quando Alckmin disse que o prazo de desincompatibilização vence em 2 de abril e ele terá que sair antes, quis dizer apenas que se afastará até 31 de março, nada além disso", afirmou o defensor da postulação do governador, o vereador e pré-candidato tucano ao governo estadual, José Aníbal. Líder do governo Serra na Câmara Municipal até a semana passada, Aníbal aderiu publicamente a Alckmin ontem. "É uma candidatura natural que ganha visibilidade de forma crescente", disse. Apesar de tentarem minimizar os ruídos entre Alckmin e Serra, alguns tucanos alertaram que, se ambos não tiverem bom senso até a convenção nacional da legenda, em março, o partido poderá fortalecer a reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva. E apelaram para a unidade. Dizendo reproduzir as preocupações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador de Minas, Aécio Neves, disse que "chegou o momento de o PSDB avançar nas consultas para ter a decisão tomada até março", evitando um confronto entre os dois. "Se não tivermos unidade, não estaremos preparados para o embate. E não acho que essa seja uma eleição ganha", alertou Aécio, após receber um telefonema de Alckmin. Apesar do discurso, Aécio insinuou simpatia por Alckmin, inclusive ao repetir argumentos do governador paulista. Aécio chegou a usar a mesma expressão do líder do governo Alckmin na Assembléia Legislativa, Edson Aparecido, ao dizer que o governador "não está queimando etapas". "Ele apenas dá mais uma demonstração de sua disposição de disputar, uma das pré-condições para a escolha", disse Aécio, sugerindo que o candidato esteja preparado para "não ser escolhido". Ontem, Alckmin telefonou para líderes tucanos para justificar sua decisão. Ele alegou estar respeitando o rito partidário. Em solenidade na sede do governo estadual, pela manhã, Alckmin tentou reduzir a tensão. "Nós não estamos causando nenhuma divisão. O PSDB tem uma tradição de busca de unidade partidária", afirmou. O secretário estadual de Ciência e Tecnologia, João Carlos Meirelles, afirmou que Alckmin ficará no cargo até o prazo-limite, uma vez que sua candidatura é o caminho natural a ser seguido. "Não há razão para que o governador saia antes. Sua candidatura é a solução natural a ser tomada. Está no último ano de mandato e não pode ser candidato à reeleição." Próximo a Serra, o secretário-geral da sigla, deputado Eduardo Paes (RJ), afirmou que o prefeito não busca o enfraquecimento da posição do governador no partido. "Vocês da imprensa raciocinam como se Alckmin estivesse em minoria dentro do partido, quando ele tem o apoio manifesto do próprio presidente da sigla, o senador Tasso Jereissati (CE)", disse o parlamentar, que definiu a declaração de Alckmin sobre a sua desincompatibilização antes do prazo final como "ingênua, do ponto de vista de não ter segundas intenções". Para Paes, "Alckmin é um candidato fortíssimo e o trunfo de Serra não é sua articulação política, mas a sua posição nas pesquisas de opinião". "Os dois são os melhores nomes que temos. Se nós perdermos porque os dois brigaram então é porque não merecíamos ganhar", alertou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). (Com agências noticiosas)