Título: Bachelet não conseguiria acabar com privilégios
Autor: Paulo Braga
Fonte: Valor Econômico, 10/01/2006, Internacional, p. A7

Os militares contam com menos peso no novo Congresso chileno, eleito no mês passado, mas mesmo que vença a eleição de domingo, a candidata da aliança governista Concertação, Michele Bachelet, não deve conseguir mudar as leis que privilegiam os membros das Forças Armadas. Isso porque para acabar com os benefícios é preciso maioria de pelo menos dois terços no Congresso e, em alguns casos, de três quintos. Com os resultados obtidos na eleição de dezembro, o bloco governista conseguiu ligeira maioria nas duas Casas. Também como herança do governo de Pinochet, o sistema eleitoral chileno acaba dando um peso de representação proporcionalmente maior ao partido ou coalizão que fica em segundo lugar na eleição em detrimento do vencedor, garantindo à direita um peso parlamentar que supera sua quantidade de votos. Na prática, isso faz com que um partido ou coalizão que obtenha pouco mais de 33% dos votos fique com metade das vagas no Congresso. Em agosto do ano passado o governo conseguiu aprovar um pacote de reformas que diminuiu a influência dos militares sobre a política. A partir de março, quando o novo Congresso toma posse, as Forças Armadas perderão o direito de indicar quatro senadores. Um dos itens que não foi aprovado foi a mudança no sistema eleitoral, que diminuiria o peso da direita no Congresso. O governo de Ricardo Lagos está aproveitando o período pré-eleitoral para desafiar a oposição e inserir o tema na agenda do Congresso, mas a possibilidade de que o assunto seja abordado pelos parlamentares é remota. (PB)