Título: Altas do café e do trigo devem pressionar inflação
Autor: Mônica Scaramuzzo
Fonte: Valor Econômico, 10/01/2006, Agronegócios, p. B10

Conjuntura

As indústrias torrefadoras e as moageiras anunciaram ontem que estão negociando um reajuste nos preços para o café torrado e moído e para a farinha de trigo no varejo em razão do aumento dos custos das respectivas matérias-primas. No caso das torrefadoras de café, o aumento negociado é de cerca de 15%. Os moinhos de trigo ainda não definiram o reajuste que deverá ser aplicado ao produto. Segundo Nathan Herszkowicz, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), o setor tem trabalhado com margens apertadas nos últimos meses por conta do aumento do café arábica e do robusta. A Abic afirmou que a saca de café arábica de 60 quilos (tipo 8) comprado pelas indústrias saltou de R$ 170, em setembro, para uma média de R$ 215 na primeira semana de janeiro, alta de 26,5%. No mesmo período, a saca de café robusta subiu de R$ 136 para R$ 170, aumento de 25%. Na semana passada, os preços futuros do café subiram 12% na bolsa de Nova York. O argumento da Abitrigo (Associação Brasileira da Indústria de Trigo), também reflete o aumento da matéria-prima. Segundo Francisco Samuel Hosken, presidente da Abitrigo, o preço médio do trigo importado da Argentina - principal fornecedor para o Brasil - ficou em US$ 150 a tonelada em 2004 e caiu para US$ 130 em 2005. Nesta primeira semana de janeiro, a tonelada ficou em US$ 145, alta de 6,6% sobre a média de dezembro. "Estamos estudando um reajuste para a farinha." Hosken disse que as perspectivas são de novos reajustes para julho, uma vez que as projeções indicam que a tonelada do trigo estará em torno de US$ 170, em razão da quebra da safra de trigo do Brasil e da Argentina. Juarez Rizzieri, professor de economia da USP (Universidade de São Paulo) e pesquisador da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisa Econômica), observou que o peso do café no índice de preços da Fipe é de 0,5% entre os 525 produtos que compõem o índice, ao lado do álcool, que representa 0,54%. No ano passado, o impacto do café na inflação ficou em 0,1 ponto percentual para uma inflação anual de 4,53%, medida pela Fipe. "O aumento já pode ter impacto no índice de inflação mensal". No caso da farinha de trigo, o impacto nos preços é mais indireto, e o peso da farinha no índice é de 0,0675%. Rizzieri lembrou que o álcool teve seu reajuste concentrado em dezembro do ano passado, por conta da entressafra da cana-de-açúcar.