Título: Dólar tem 5ª queda seguida, apesar do BC
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 10/01/2006, Finanças, p. C2

Após a pesada queda registrada ontem, a quinta em seguida, o dólar já encostou no preço que determinou o retorno do Banco Central aos leilões de compra no começo de outubro. No leilão do dia 3 de outubro, o BC adquiriu moeda a R$ 2,2310 e ontem o dólar fechou a R$ 2,25, em desvalorização de 1,4% em relação à sexta-feira. De outubro a dezembro, o BC comprou diretamente do mercado à vista US$ 11,795 bilhões. E neste início de ano adquiriu cerca de US$ 1,2 bilhão. Estes US$ 13 bilhões gastos para impedir uma apreciação cambial maior representam a contratação de dívida pública nova de R$ 29,89 bilhões, o equivalente a 1,52% do PIB. Ou seja, o BC criou dívida novíssima e muito custosa, mas a cotação do dólar ainda está em nível perigosamente baixo. Limitada, ineficiente e cara, a ofensiva cambial do BC não pode persistir indefinidamente. Terá de encontrar logo outras formas de impedir a queda do dólar sem onerar demais a dívida interna. O fracasso da estratégia cambial do BC foi desconcertante ontem. Ele vendeu ao meio-dia a totalidade dos 8,8 mil contratos de swaps reversos oferecidos aos bancos, adquirindo US$ 417 bilhões no mercado futuro. Desde a volta do BC aos swaps invertidos, no dia 17 de novembro, até ontem, vendeu 257,7 mil títulos, equivalentes a US$ 13,867 bilhões. E ontem à tarde aceitou 11 propostas no leilão direto de compra de dólares, pelo preço de R$ 2,2575. Em cinco pregões, a moeda já tombou 3,85%.

DI futuro da BM&F vê Selic a 17% só em março

O BC terá de superar a sua aversão natural a medidas administrativas, mais intervencionistas, se quiser evitar o desabamento do dólar. Além da imposição de restrições à montagem de posições vendidas em dólar pelos bancos, o BC e o Tesouro poderiam criar um título prefixado longo e específico para servir de troca aos dólares que entram. Na opinião do economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, para tornar o papel aceitável ao mercado doméstico bastaria abrí-lo aos investidores estrangeiros. Mas a maioria dos economistas de bancos reconhece que a melhor maneira de diminuir o ingresso de dólares seria um corte acentuado do juro básico brasileiro. Apesar de os juros terem caído ontem no mercado futuro da BM&F, não houve mudança significativa na inclinação da curva, de modo a indicar a expectativa de uma ampliação do desaperto monetário. O DI futuro persiste embutindo nos contratos o prognóstico de continuidade do ciclo de baixa no compasso de meio ponto percentual por reunião do Copom. O pregão prevê corte da Selic para 17,5% no próximo dia 18, quando ocorre a primeira reunião do ano do Copom, e para 17% no dia 8 de março (em fevereiro não haverá encontro do Comitê). O contrato mais curto, para a virada do mês, caiu ontem de 17,65% para 17,63%. E o mais negociado (giro de R$ 9,3 bilhões), para a virada do ano, recuou de 16,33% para 16,28%.