Título: Recuperação econômica já está acontecendo, diz presidente do BC
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 10/01/2006, Finanças, p. C2

Contente com os elogios da banca internacional sobre a condução da economia brasileira, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, desembarca hoje em Brasília esperando que as críticas internas sejam atenuadas quando ''ficar claro'' que a aceleração econômica já estaria acontecendo. Visivelmente procurando responder a "ansiedade muito grande sobre o que está acontecendo'', Meirelles afirmou que houve clara recuperação da atividade no quarto trimestre e que o país já está vivendo crescimento "extremamente positivo''. O presidente do BC disse ter ouvido a avaliação mais positiva até agora sobre a economia brasileira, nos dois dias de reuniões com banqueiros privados e com as principais autoridades monetárias do planeta, no Banco de Compensações Internacionais (BIS), em Basiléia (Suíça). ''A grande preocupação era como o Brasil ia fazer o ajuste'', afirmou. O resultado faz com o país seja visto de forma bastante positiva para este e para os anos seguintes graças ao "ajuste suave que o Brasil fez em 2005, com inflexão de política monetária saindo de subida de juros para movimento de queda, a recuperação que a economia brasileira está mostrando e a mudança muito grande em alguns indicadores (reservas, dívida externa líquida do setor público, dívida cambial, melhora de índice de solvência)". Ao mesmo tempo, Meirelles acompanhou da Suíça rumores de que setores do PT aumentam as pressões para o presidente Lula mudar a política econômica, porque, para se reeleger, terá que gerar crescimento forte. Ele disse "não ter informações" sobre rumores de que poderia inclusive ser demitido. Mas que reage com "serenidade e tranqüilidade" às críticas e aposta na receita econômica atual. "Considerando o histórico do Brasil, de baixo crescimento nas últimas duas décadas, é normal que exista ansiedade muito grande para saber se está de fato acontecendo", afirmou. "Agora, na minha avaliação, na medida que ficar clara a recuperação e o crescimento já forte da economia para 2006 e os ganhos com inflação baixa - porque isso ainda gera dúvidas no Brasil -, acho que teremos uma mudança do enfoque do debate e maior concordância com os fundamentos da política econômica que prevalecem hoje no mundo, de inflação baixa, equilíbrio fiscal etc". Para o presidente do BC, os indicadores da produção industrial e das vendas no final do ano devem demonstrar a expansão da atividade. "O Brasil fez um ajuste necessário em 2005 para ter capacidade de crescer de forma mais acelerada em 2006. Não devemos esquecer fatores conjunturais, como a questão política que gerou declínio de atividade no terceiro trimestre". O presidente do BC constatou que os principais bancos centrais industrializados têm um cenário internacional que é também positivo para o Brasil. O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean Claude Trichet, que fala pelo grupo após as reuniões do BIS, acha que a economia global pode crescer mais do que foi registrado no ano passado. Os banqueiros não esperam mudança "substancial" este ano no fluxo de liquidez para as economias emergentes, mas isso está sujeito a análises de riscos do preço do petróleo e do mercado imobiliário. Trichet acha que o preço do petróleo pode se estabilizar no nível atual. Já o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo Rato, foi mais prudente, insistindo que o preço do petróleo continua sendo um risco para o crescimento econômico global e que sua elevação ainda não foi totalmente absorvida. "No médio prazo, veremos uma clara necessidade de as maiores economias do mundo administrarem com firmeza os desequilíbrios globais. Estou referindo-me aos EUA, Europa e China, e em alguma extensão aos países produtores de petróleo com amplos superávits", afirmou Rato à Reuters.