Título: PT vê ameaçada aliança com PMDB
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 19/12/2005, Política, p. A10

Crise Ascensão de Quércia nas pesquisas ao governo de SP acenderam a luz vermelha no partido

O surgimento inesperado do nome de Orestes Quércia, do PMDB, como o líder nas pesquisas para o governo de São Paulo é mais um pesadelo para o PT e o governo, na semana em que Lula sentiu, pela primeira vez, a possibilidade concreta de ser derrotado por um candidato tucano nas eleições presidenciais de 2006. Considerado a "jóia da coroa", o governo de São Paulo é elemento de estabilidade política essencial para todo o dirigente federal. Até então, sem adversários à altura, o PT convivia apenas com a briga interna para escolha de seu pré-candidato, entre a ex-prefeita Marta Suplicy ou o senador Aloizio Mercadante. Com o surgimento de Quércia e a perspectiva cada vez mais provável de que a verticalização não seja derrubada, o peso do PMDB aumenta e o preço da legenda, para se aliar a Lula no ano que vem, valoriza-se ao extremo. O Planalto sonha com a aliança com o PMDB, para garantir dividendos eleitorais e a governabilidade em um possível segundo mandato de Lula. Os caciques pemedebistas já disseram que, com a verticalização, nada feito. A disposição do lançamento de um candidato próprio deixa de ser uma ameaça e passa a ser real. "A única possibilidade de unir o partido é termos um candidato próprio. Isso é consenso. Só estão indefinidos o nome do candidato e a data da prévia", martelou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), admite o abacaxi que a legenda tem pela frente. "Vamos sempre manter o diálogo, apesar de sabermos as dificuldades. As negociações com o PMDB nunca são fáceis", resignou-se Berzoini. O petista espera, contudo, que o PMDB reflita no papel que já exerce no governo e não dificulte ainda mais as conversas. "Sabemos que é uma legenda extremamente heterogênea. Mas eles não podem esquecer que têm três Ministérios, pastas de peso. Já têm uma participação efetiva no governo", cobrou o presidente do PT. Renan acha que uma coisa não tem nada a ver com outra. Alerta que seu partido, ao decidir compor com o governo, deixou claro a Lula que o movimento não tinha objetivo de composições eleitorais para 2006. "Nosso compromisso é com a governabilidade. Mas o PMDB tem seus projetos de poder. Queremos ter candidato próprio e esperamos que ele chegue ao segundo turno", ressaltou Renan. A cúpula governista do PMDB torce para que este nome seja do atual presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim. Há quem chame Jobim de "candidato coringa", um nome maleável para facilitar as negociações tanto com o PSDB quanto com o PT. Se por um lado Jobim é acusado de ser próximo demais de Lula e, especialmente do ex-deputado José Dirceu, ele foi ministro da Justiça de Fernando Henrique e chegou ao STF por indicação do ex-presidente tucano. "Se um candidato do PSDB se fortalecer e vier a ser eleito, não há nenhum problema em contar com o apoio do PMDB", afiançou um assessor pemedebista. O Planalto é mais cauteloso. Assessores políticos declaram que, no momento, todos os cenários não passam de especulação. Acreditam, inclusive, que Quércia desistirá no meio do caminho e que o movimento atual tem como único objetivo cacifá-lo para outras disputas, como a Câmara ou Senado. Sobre as dificuldades de diálogo, nada que fuja do script. "O PMDB sempre agiu desta maneira em todos os governos. Eles vão dizer o que querem e nós vamos ver o que faremos em troca", admitiu um assessor palaciano. Articuladores palacianos acham, inclusive, que o PSDB perde muito mais que o PT com um crescimento da candidatura Quércia. A análise é de que ele tiraria voto dentre o eleitorado tucano, favorecendo uma candidatura petista. "Eles vão ter que se preocupar com mais gente, não apenas com o candidato do PT", justificou uma fonte palaciana. O secretário-geral do PSDB, deputado Eduardo Paes (RJ), discorda. Ele admite que Quércia pode ser mais uma dose de "água no chopp petista". E abre a temporada de diálogo com os pemedebistas. "É claro que temos todo o interesse de conversar com o PMDB, tanto no plano estadual quanto no federal", declarou. Mas acrescenta. "Esse é um assunto estadual. Teremos candidatos em São Paulo e, quando for associado o nome às realizações tanto de Alckmin quanto de Serra, a tendência é de que a candidatura suba à lua", exagerou Paes.