Título: Estrangeiras avançam no vazio deixado pela Varig
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 19/12/2005, Empresas &, p. B3

Aviação Companhias aproveitam bom momento do setor para crescer

A British Airways acaba de comemorar o primeiro aniversário com um Boeing 747-400 na rota São Paulo-Londres, que já está entre os 20 trechos de longo percurso mais rentáveis da companhia em todo o mundo. Uma das suas concorrentes européias, a Lufthansa, estreou em fevereiro um segundo vôo diário para Frankfurt, tamanha a alta da demanda no mercado brasileiro. Para a Air France, o Brasil é o país que mais cresce no mundo - o que justificou a entrada, em outubro, de um Airbus 330 para acrescentar mais três freqüências semanais a Paris, saindo de Guarulhos, às sete já existentes. E não é só para a Europa que as companhias estrangeiras estão atingindo velocidade de cruzeiro nos seus vôos internacionais a partir do Brasil. Empresas americanas como a Delta Airlines registram números igualmente positivos. Com o dólar barato, turismo em alta e o melhor momento da economia mundial em duas décadas impulsionando as viagens de negócios, o mercado brasileiro de vôos para o exterior apresenta, pelo segundo ano seguido, uma forte expansão. Mas as companhias aéreas estrangeiras têm aproveitado bem melhor do que suas concorrentes nacionais a boa conjuntura do setor aéreo. Levantamento feito pela Infraero, a pedido do Valor, mostra que as empresas estrangeiras aumentaram em 15% o número de passageiros transportados em vôos para o exterior a partir do aeroporto de Guarulhos, o maior do país, entre janeiro e outubro de 2005 - na comparação com igual período do ano passado. Saindo do Galeão, o desempenho individual das companhias aéreas americanas e européias também é bem superior ao da Varig, líder brasileira nas rotas internacionais. Até novembro, números do Departamento de Aviação Civil (DAC) apontavam um crescimento bem mais modesto, de 7,4% - a Varig teve um recuo de 0,5%. As estatísticas do DAC e da Infraero têm diferenças metodológicas, mas dão uma idéia razoável de como as companhias aéreas nacionais estão perdendo uma ótima oportunidade de expansão internacional. "Não temos nada contra as companhias estrangeiras, que acabam trazendo mais turistas para cá e aumentam as possibilidades de conexões, mas é evidente que preferiríamos ver esse crescimento da demanda sendo atendida pelas empresas aéreas nacionais", diz o diretor de Política de Aviação Civil do Ministério da Defesa, Rigoberto Lucht. Analistas do mercado financeiro concordam que o perfil de TAM e Gol, além das dificuldades financeiras enfrentadas pela Varig, explicam a timidez com que as empresas brasileiras têm avançado sobre esse mercado. Para Carlos Albano, especialista em setor aéreo do Unibanco, a enorme dívida da Varig impede que ela importe mais aviões e amplie as freqüências operadas.

Mercado brasileiro de vôos para o exterior apresentou pelo segundo ano seguido uma forte expansão

Por que TAM e Gol não aceleram as suas turbinas, então? Segundo Albano, a companhia fundada por Rolim Amaro tem adotado uma estratégia internacional muito cautelosa após 2001, quando iniciou novas rotas para Frankfurt e Zurique, mas teve que cancelar as linhas poucos meses depois, como conseqüência de uma grave coincidência de fatores - alta do dólar, encarecimento do petróleo e dos combustíveis de aviação, além dos efeitos do 11 de setembro. Há quem diga, ainda, que a TAM espera um desfecho para a novela Varig. Mesmo com a abertura de um segundo vôo diário para Paris e a nova rota para Nova York, a tática da empresa ainda é considera prudente. "Eles tiveram uma dura lição naquele momento", afirma Albano. "Gato escaldado tem medo de água fria." De acordo com o especialista do Unibanco, a Gol não deve expandir as suas operações para Estados Unidos e Europa, restringindo o início de novas linhas para países da América do Sul. É que, para voar a destinos como Buenos Aires e Montevidéu, a companhia pode usar a mesma estrutura "baixo custo, baixa tarifa" adotada na malha doméstica. Ou seja, com os mesmos jatos de modelo 737 e sem refeições. Se quiser fazer vôos transatlânticos, por exemplo, precisaria de aviões maiores - abrindo mão da vantagem de ter frota unificada. Enquanto as companhias aéreas estrangeiras registram movimento praticamente estável em seus vôos para a América Latina, as linhas para Estados Unidos e Europa têm sido reforçadas. As cinco empresas que operam rotas para a América do Norte - Air Canada, American Airlnes, Continental, Delta e United - registraram crescimento médio de 12,5% no número de passageiros embarcados em Guarulhos, nos dez primeiros meses de 2005. A Delta acumula expansão de 74%. As companhias européias comemoram mais ainda o desempenho recente - expansão de 25,1% saindo de Guarulhos. A campeã é a Lufthansa, que transportou 389 mil passageiros a partir do aeroporto paulista até outubro, segundo números da Infraero - 93% mais do que no ano passado. Isso é resultado do segundo vôo diário para Frankfurt, iniciado em fevereiro, explica Bernd Houffmann, diretor de comunicação para a América Latina. "Percebemos que o mercado brasileiro tem crescido de forma consistente nos últimos dois anos, e isso não é um fenômeno de curto prazo", diz Houffmann. A Air France, que opera dez freqüências diárias para Paris a partir de Guarulhos e outras sete a partir do Galeão, registra números invejáveis. O índice de ocupação das aeronaves, que fechou o ano fiscal 2004-2005 em 86,3%, não pára de crescer desde 2001. Na British Airways - com expansão de 22,3% em passageiros embarcados em Guarulhos, segundo a Infraero -, o objetivo dos executivos no Brasil é tornar a rota São Paulo-Londres uma das dez linhas de longo percurso mais rentáveis do mundo. O cumprimento de tal objetivo em 2006 poderá convencer a matriz a aumentar as freqüências. Em novembro do ano passado, trocou um Boeing 777 (com 220 assentos) por um modelo 747-440 (para 299 passageiros), com ocupação superior a 80% nos vôos diários, que quatro vezes por semana terminam em Buenos Aires. "Essa rota já está entre as vinte mais rentáveis", diz o diretor comercial no Brasil, José Antônio Coimbra.