Título: BC dissuade lucro fácil no câmbio
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 19/12/2005, Finanças, p. C2

O Banco Central iniciou o desmonte na sexta-feira das operações destinadas a tirar proveito das intervenções agressivas e previsíveis feitas por ele no mercado de câmbio desde o dia 7. Como o BC vêm atuando de forma linear e contínua - oferece 12,5 mil contratos de swaps reversos de manhã e compra dólar no mercado à vista à tarde - instituições armaram a estratégia de adquirir moeda no período matinal para revendê-la mais caro ao BC na etapa vespertina. Lucro fácil que não requer nem habilidade nem engenharia financeira complexa. Isso só era possível porque, nos leilões, o BC vinha referendando a cotação do mercado. A taxa de corte aceita por ele nos leilões refletia o valor do momento. Na sexta-feira, ele quebrou a ciranda. De manhã, as compras do mercado elevaram o preço para até R$ 2,35, avanço de 2,22% em relação à véspera. Quando a cotação estava em R$ 2,344, às 15h35, o BC anunciou seu tradicional leilão de compra. E o mercado esperava que, de novo, iria sancionar a cotação mais alta. Enganou-se. O BC impôs taxa de corte menor, de R$ 2,337. Resultado: aparentemente, nenhuma proposta foi aceita, e quem comprou mais barato na esperança de vender caro teve de devolver a moeda ao mercado. E o dólar fechou exatamente no preço de corte do BC, R$ 2,337, alta de 1,65%. Foi a oitava valorização consecutiva. Desde o dia 7, o dólar já subiu 7,35%. Seqüência de altas seguidas maior do que esta só a de nove avanços ocorrida entre 19 e 31 de julho de 2002, período no qual o dólar saltou 21,75%. A diferença é que, ao contrário de agora, o BC atuava na venda.

Nitidamente determinado a puxar a cotação do dólar para cima, o BC, após o dólar ter superado a marca de R$ 2,30, tende doravante a atuar de forma mais errática e menos previsível. A ofensiva cambial foi avassaladora. Desde meados de novembro assumiu posição credora em dólar no mercado futuro, por meio da venda de swaps reversos, de US$ 8,153 bilhões. E somente nos últimos oito pregões adquiriu à vista cerca de US$ 4 bilhões.

Em oito dias, dólar acumula alta de 7,35%

A tendência é de o BC moderar a intensidade de suas intervenções também porque esta época do ano é favorável a um movimento natural de depreciação do real. Neste período, diminuem as entradas de capital feitas por exportadores (que concentram seus negócios até o dia 10) e de investidores estrangeiros, estes já mais preocupados com as festas de fim de ano. E aumentam as remessas de lucros por parte de multinacionais. Se o BC persistir atuando vigorosamente, o câmbio tende a ficar seco de dólares e a moeda a subir artificialmente. Isso amplia perigosamente a volatilidade. No dia em que o BC abandonar o mercado, a cotação cairá até com mais força do que o ímpeto empregado na direção oposta.

Ata flexível

Os analistas torcem para que a ata da reunião do Copom realizada na semana passada, a ser divulgada na próxima quinta-feira, seja redigida de maneira a não fechar nenhuma porta. Defendem o uso de um tom mais flexível que permita ao BC mudar de idéia no meio do caminho. A ata anterior, referente à reunião de novembro, foi tão enfática na sinalização da continuidade do corte de meio ponto que, mesmo depois da frustração geral provocada pela retração exibida pelo PIB no terceiro trimestre, o Copom não teve como voltar atrás. O consenso atual é de que o afrouxamento monetário será ampliado na reunião de janeiro. Como o BC prefere atavicamente o gradualismo, a redução mais óbvia seria de 0,75 ponto percentual. Mas os analistas gostariam que fossem abertas brechas para a possibilidade de uma baixa de um ponto, caso se confirmem expectativas ainda preliminares de que a economia não se recuperou no quarto trimestre a ponto de garantir um PIB acumulado no ano com expansão de 2,5%. Os dados já indicam algo mais perto de 2% do que de 2,5%.