Título: Indústria freia demanda por energia
Autor: Sergio Lamucci e Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 11/01/2006, Brasil, p. A3

O consumo de energia no Brasil cresceu 4,5% em 2005 - acima da alta de 2,5% esperada para o Produto Interno Bruto (PIB). A demanda por esse insumo, contudo, poderia ter sido maior não fosse a queda da atividade industrial, que funcionou como um freio no resultado global do consumo elétrico nacional. No ano passado, o consumo de energia elétrica pela indústria cresceu apenas 2,6%, segundo estimativa da Empresa de Empresa de Pesquisa Energética (EPE), elaborada para o Valor. O consumo de energia elétrica pela indústria deve ficar abaixo, inclusive, da evolução da produção do setor no ano passado. Até novembro, a indústria produziu 3,1% mais em relação a 2004. A explicação para a menor demanda por energia está na distribuição da produção por intensidade do gasto com este insumo no ano passado. De janeiro a novembro, os setores de alta e média intensidade produziram apenas 0,4% e 0,2% a mais, respectivamente, que em igual período de 2004. Já os segmentos com baixo gasto com energia acumularam, no mesmo período, um crescimento de 5,9% na sua produção, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2004, PIB e consumo de energia andaram próximos: o primeiro cresceu 4,9% e o outro 4,5%. Já no ano passado, a energia crescia 4,7% até outubro e deve fechar o ano em 4,5% segundo estimativa da segundo dados da EPE. Trata-se do mesmo percentual do ano anterior. Já o PIB acumulou, até setembro, apenas 2,6% de alta sobre os primeiros nove meses do ano anterior. Enquanto o consumo do setor industrial aumentou 7,2% em 2004, o crescimento no ano passado foi de apenas 2,6%. A indústria é responsável por 46% da energia consumida no país, seguida pelo setor residencial (25%), comércio (15%), enquanto outros segmentos, onde estão incluídos o consumo rural e do setor público, respondem por 14%. Com a desaceleração de seu principal motor, o crescimento global do consumo de energia em 2005 só se manteve igual ao de 2004 devido ao aumento do consumo residencial e comercial, que cresceram 4,9% e 6,8%, respectivamente. Também o setor público teve comportamento inverso, apresentando aumento de 7,1% no consumo, contra uma queda de 1,1% em 2004. É isso que destaca Amílcar Guerreiro, diretor da EPE e ex-secretário de Política e Planejamento Energético do Ministério de Minas e Energia (MME). "Nos dois últimos meses do ano o consumo da indústria cresceu menos, refletindo a queda do PIB industrial decorrente da desaceleração da economia. O PIB caiu e ele é uma medida sintética da economia, que se reflete no consumo de energia pelo setor industrial. A contribuição dos demais segmentos permitiu que o consumo não fosse menor que o de 2004 ", explicou Guerreiro. Até outubro, o consumo industrial brasileiro crescia oficialmente 2,8%, mas a estimativa da EPE é que em novembro e dezembro essa taxa de crescimento tenha perdido fôlego, ficando em 1,8% no bimestre. Guerreiro lembra que existe um fator elasticidade-renda do consumo de energia, que comparada ao crescimento do PIB é tradicionalmente maior que um no Brasil. Em estudo que ainda está em elaboração, a EPE constata que na década de 70 a elasticidade-renda do consumo de energia elétrica foi de 1,37 vezes (o PIB), com essa proporção tendo saltado para 3,84 na década de 80. Nos 90 ela foi de 1,61 e no período 2000-2005 caiu para 1,05. O salto verificado nos 80 foi resultado da maturação de grandes projetos do Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), que gestou grandes projetos, como os do setor de alumínio, que é eletrointensivo, explicou o executivo. Para 2006, a Tendências Consultoria espera que a demanda por energia elétrica volte a se aquecer. A projeção é de uma alta de 5,7% em relação ao ano de 2005. Essa expectativa está baseada em um crescimento de 3,4% do PIB em 2006 e na perspectiva de que a taxa de elevação do consumo de eletricidade apresente uma relação de 1,7 com a do PIB. O IBGE estabeleceu (com base nos dados da pesquisa anual da indústria) que, em média, o gasto com a compra de energia representa 3,5% do valor da transformação industrial. A partir dessa média, o instituto classificou como de intensidade alta todos os produtos associados aos setores industriais cujo coeficiente se situa acima de 3,9%. Os produtos dos setores com coeficiente entre 3,9% e 2,0% foram classificados como de intensidade média e os abaixo de 2,0%, como de intensidade baixa. Em todos as classificações existem bens intermediários e de consumo, e os bens de capital estão entre os de média e baixa intensidade com gasto de energia elétrica. O setor metalúrgico, por exemplo, é quase todo de produtos de alta intensidade tecnológica e acumulou, até outubro, queda de 2,5% na produção em relação a igual período de 2004. Já a fabricação de computadores e máquinas para escritório - com alta de 13% na mesma comparação - é classificada como de baixa intensidade. O crescimento de 4,5% do consumo de energia elétrica no país já foi contabilizado também pelo Operador Nacional de Energia Elétrica (ONS), que mede em tempo real o mercado total de energia do país (carga), incluindo as perdas durante a transmissão, consumidores livres e os auto-produtores, que apenas transportam a energia pelo sistema. Já a EPE, criada em 2004 para coordenar o planejamento energético do país, informa os dados de consumo distribuídos por classe de consumo, tendo como base dados fornecidos pelas distribuidoras.(Colaborou Denise Neumann, de São Paulo)